A Caminhada entre as estações indefinidas.
A primavera chegou, mas se esconde em algum lugar.
Céu azul tem sido raro nos Alpes de Haute Provence. Não falo nem do frio, mas da chuva gelada.
Difícil tomar a atitude de acordar bem cedo para encarar a umidade das montanhas e das florestas.

Assim, quando amanhece com céu azul, não importa qual trilha escolher pois não há tempo a perder.
Esse tempo que parece querer ensinar que as oportunidades na vida são como um trem em alta velocidade.
Dessa forma, é embarcar rapidamente ou ter paciência de esperar se outro trem vai passar.

Para mim, novas descobertas são sempre uma injeção de ânimo em dose dupla nas caminhadas.
Portanto, sem muito planejar, decidimos fazer uma trilha que começava na Colle Basse, uma colina no final da pista de montanha que leva o mesmo nome, Chemin de la Colle Basse, no vilarejo de Annot, no departamento 04.
No alto da colina, existem várias opções de trilhas para escolher que conduzem a diferentes vilarejos e montanhas.
Decidimos partir em direção ao Vergons.
Vale a observação que pode-se partir do início do Chemin de la Colle Basse, ainda dentro de Annot.
É só prestar atenção na sinalização das trilhas existente na principal praça do vilarejo que beira a estrada D908.

O começo da caminhada apresenta uma pista larga, piso não escorregadio e em cada curva uma linda paisagem que, mesmo se conhecida, presenteia uma vista por um novo ângulo.
Tudo perfeito para um condicionamento físico que ainda patinava na marcha lenta.
No começo da caminhada ainda encontramos neve

Pode ser incrível acreditar, mas ainda encontramos neve em alguns trechos, mesmo já estando na primavera.
Sinal de curto-circuito entre as estações que perdem o momento de chegar e partir e me enlouquecem na hora de me vestir.
Assim pequei pelo excesso e dei largada bem protegida, coberta com quatro camadas da camiseta esportiva de manga longa com proteção UV ao colete de frio, sem falar da toca e luvas.
Eu me sentia o próprio João teimoso, aquele boneco inflável, tolhida de mobilidade.
Mas logo a sobreposição começou a pesar à medida que a temperatura do corpo e do dia começaram a subir.
Era hora de começar a despir.
Quando o excesso de roupa começa a pesar
Mas sai, propositalmente, sem levar mochila.
Queria a liberdade de não carregar qualquer peso nas costas.
Meu companheiro, prevenido, levava uma pequena mochila.
Tive que negociar com jeitinho um pequeno espaço para guardar pelo menos um dos agasalhos.
Deu certo.
Partimos em frente e ladeira abaixo.
O início dessa trilha é praticamente de descida.
Eu faço parte do grupo que acredita que o velho ditado que diz que descendo todo santo ajuda não se aplica principalmente em montanhas.
Meu joelho grita baixinho em cada freada e o coração acelera com medo dos pés escorregarem no cascalho.
Olho mais para o chão do que aproveito a paisagem.
Além disso, eu só consigo pensar no retorno, quando todos os santos, com certeza, se aposentam e a subida parece se estender à medida que a respiração começa a faltar.
Finalmente o temor foi maior do que a extensão da descida.
Logo chegamos ao Col de l’Iscle numa encruzilhada.
À esquerda, uma placa indicando Vergons e, provavelmente, uma pista que continuaria a descer.
A outra placa indicava o sentido que acabávamos de fazer.
E, uma pista à direita, sem qualquer informação.
A única certeza que tínhamos é que não era o momento de parar e queríamos continuar.
Mas qual direção escolher?
Direita ou esquerda, qual direção tomar?

Nada difícil de imaginar, quando acompanhada de quem também tem prazer de se aventurar.
E seguimos à direita.
Desta vez uma subida, não exagerada, mas com um bom trecho completamente coberto de neve que afundava os meus pés até o tornozelo.

Um esforço extra para as pernas e a constatação que minha memória cardiorrespiratória ainda é de quem cresceu no nível do mar.
Todo o condicionamento adquirido na montanha foi embora em dois meses sem atividade em altitude.

Porém, não era algo que impedisse o desejo de prosseguir, pois a delicadeza da arte sem toque e retoques pelo caminho é sempre um grande estímulo para continuar e me fazer sentir a própria fotógrafa, embora sem a técnica.
Meu olhar vaga entre o solo, as pedras e o tronco das árvores.

Descubro um pequeno arbusto que, mesmo engolido pela neve, insiste em sobreviver e ensina-me sem nada precisar dizer.
Durante a caminhada, uma viagem no imaginário
Na minha caminhada solitária, eu viajo no imaginário, entre passadas por um mundo inerte, mineral e vegetal, repleto de perfis por todos os lados.
Eu esfrego os olhos. Sonho acordada e registro tudo na esperança de que o que meus olhos testemunharam poderá também ser captado por diferentes olhares.
São perfis de humanos ou de animais talhados pelo tempo em pedras cravadas no chão ou mesmo em velhos troncos de árvores mortas que se transformam em estátuas e bustos de madeira.
Uma galeria de arte em pleno céu aberto que leva a assinatura Natureza.
O que me dá a certeza de que Lavoisier tinha razão: “Nada se perde, tudo se transforma”.
É a morte proporcionando uma outra forma de existência.





O retorno enquanto há pernas
As horas correm sem perceber, mas o sinal vermelho acende.
Sem qualquer sinalização a vista, sem um mapa da região para consultar, a caminhada foi até onde se confrontou com o bom senso.
Tudo que percorremos teria que ser refeito no sentido contrário.
Meia volta no sentido Colle de la Basse.
Pernas para quem tem, esperando que os santos estejam em prontidão.
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Se quiser mais dicas para se aventurar, nos acompanhe pois já passou da hora de Correr para Recomeçar.
Até a próxima
Aventura seu nome eh virginia
Verdade. Adoro descobrir novos lugares, culturas … Minha lista é tão grande que eu precisaria de outras vidas. Portanto, enquanto tiver pernas…