Um novo roteiro pelos caminhos de ferro da Provença.
Quando penso que já explorei todos os percursos possíveis, descubro que ainda há muito a descobrir.
Assim é a vida. Assim é o entorno de Méailles.
Neste vilarejo medieval escondido em um canto dos Alpes de Haute Provence, na França, é possível integrar-se à natureza selvagem, bem como à solitude das montanhas, ao silêncio das florestas, ao nascer e morrer para um novo recomeçar.
São instantes de prazer que fazem mergulhar na efemeridade da existência, que também permitem aproveitar cada frame de vida em slow motion.
Mas, quando o frio e chuva decidem estacionar no inverno europeu, é difícil levantar da cama para retomar a rotina de caminhar.
Só mesmo em um amanhecer de trégua foi possível dar largada nas caminhadas 2025.

Linha férrea
Saímos sem destino certo e, de repente, estávamos diante da linha férrea que liga Nice/Digne les Bains, um convite a experimentar e se aventurar.
Porém, neste tipo de trajeto é preciso cronometrar as passadas de acordo com os horários que os trens passam nos dois sentidos e dar uma margem de espaço como precaução. Não vale a pena arriscar.
Após a consulta feita no celular, partimos no sentido Nice.
Meu companheiro de aventura, como um TGV, e eu, satisfeita na condição de uma Maria Fumaça, deixando a engrenagem pouco a pouco encontrar seu ritmo e me permitir apreciar o entorno do trajeto.
Apesar de ser uma paisagem conhecida, eu a redescobria por um outro ângulo e um novo olhar.


Além disso, o terreno irregular me obrigava a prestar atenção onde pisava.
Em alguns trechos era preciso saltar da calçada lateral para as placas de madeiras de sustentação do trilho ou caminhar sobre pedregulhos irregulares que delimitavam a linha férrea. Isso merecia todo cuidado para o joelho não reclamar. Assim, praticava meu genérico adaptado fartlek.
Contudo, nesse percurso linha férrea são as curvas que dão o tempero da emoção e a sensação de estar se conduzindo ao desconhecido.
É o momento que o coração acelera, a mente oxigena e a curiosidade contamina todo o corpo que imprime velocidade para alcançar rapidamente o outro lado para desfrutar de mais uma bela paisagem.




Sinal vermelho
Assim, de um lado ao outro e entre curvas e retas, o corpo se aquece, a engrenagem da “Maria Fumaça” finalmente encontra seu ritmo.
Entretanto, o sinal vermelho acende antes do desejado.
Próximo de Fugeret, avistamos um carro de manutenção da via férrea. Decidimos dar meia volta e evitar aborrecimentos.
De novo ao ponto de partida na estação de Méailles, aparentemente fantasma, entramos no seu interior e uma bela surpresa nos aguardava: uma exposição de fotos da construção e início das atividades da linha férrea naquele trecho.


Uma curta e fácil caminhada para quem gosta de longas distâncias e tem por hábito chegar a exaustão e chacoalhar a mente nas difíceis trilhas de montanhas.
Mas também na medida certa, depois de dois meses completamente parada, para acionar o antídoto da preguiça em forma de prazer através da resposta imediatamente do corpo e mente à atividade física.
Segundo dia de caminhada

Portanto, não deixamos o motor esfriar e poucos dias depois já estávamos de volta aos trilhos na nossa meta de explorar a linha férrea Nice/Digne les Bains.
Desta vez, partimos com todos os horários de passagem do trem nos dois sentidos anotados, pois sabíamos que haveria um túnel para atravessar, porém desconhecíamos a sua extensão.



Nessa direção, o percurso não apresentava dificuldades diferentes e também oferecia calçadas e possibilidades de fugas de escape, caso surpreendidos pelo trem.
Era só deixar a mente embarcar na viagem de trem com direito a paradas de belos registros de paisagem e retroceder no tempo, imaginando a dificuldade na construção de cada trecho.



Um túnel depois do túnel
Na entrada do túnel uma luz indicava sua extensão.
Melhor assim, saber onde pisávamos.
Mais curvas e descobertas pelo caminho.
Porém não contávamos com um segundo túnel e bem mais extenso, logo após a estação do vilarejo de Peyresq.
Isso significava nosso final de linha do dia.
Impossível seguir em frente sem saber as condições do ar no seu interior e se tinha calçadas e rota de escape.
Na pequena estação, mais um pouco de história.
O túnel é chamado de Subterrâneo de La Colle de Saint Michel porque atravessa a montanha onde o vilarejo é localizado.
Esse tem 3.467 metros de extensão e demorou quatro anos para ser construído (janeiro de 1900/maio de 1904), contando com a mão de obra de 400 trabalhadores italianos.


Estação de Peyresq
Ainda assim, o corpo queria se exercitar e a mente pedia mais emoção.
Dessa forma, mudamos a direção da nossa curiosidade.
Afinal, era difícil imaginar que os habitantes de Peyresq, vilarejo encravado à 1.550 metros de altitude, desciam e subiam por trilhas na montanha até a estação.




Resolvemos seguir uma placa que indicava uma trilha para Peyresq.
Uma subida estreita e coberta de folhas.
A essa altura, eu só conseguia pensar no retorno que seria uma descida deslizante.
Comecei a me arrepender da decisão.
Mente e corpo ainda não estavam totalmente desenferrujados para enfrentar essa aventura, sem esquecer que as horas avançavam e esse desvio eu não tinha incluído na programação do nosso tempo entre a passagem de um trem e outro pelo nosso trajeto de volta.
Se subíssemos até Peyresq, não teríamos tempo de retornar pela linha férrea até a estação de Méailles, antes do trem passar. Isso era certo.
Trilha no meio do caminho
A outra opção seria pegar a estrada de montanha, ou seja, algo em torno de 15km, o que nos obrigaria fatalmente a caminhar na escuridão, certamente não é aconselhável em estreitas estradas de montanha sem iluminação.
Novamente, uma meia volta, eu em slow motion para não escorregar nas folhas secas.
Ainda bem que o trecho era curto e rapidamente estávamos de volta aos trilhos e em direção à Méailles.

Mas já próximos da estação, uma outra trilha desviou nosso trajeto.
Agradeço a curiosidade.
Descobrimos um local aconchegante com uma pequena cachoeira e lago natural convidativo para os dias quentes do próximo verão.
Fica a dica pois vale a pena conferir.
O trecho a percorrer da estação de Méailles até a entrada da trilha, à direita logo após a primeira ponte, é bem curto e tranquilo para caminhar.




Para não deixar o nosso final de linha sem emoção.
O desvio nos permitiu um atraso providencial, pois nos deixamos admirar a beleza do local, tempo exato para o trem passar.
Hora de relaxar e finalizar nossa abertura de caminhadas 2025.


Se quiser sugestão de belas caminhadas , mesmo aquelas que aceleram o coração, mas presenteiam os olhos com magnificas paisagens, inscreva-se, comente e siga o blog.
É hora de correr para recomeçar.
Até a próxima!
Quanto lugar lindo
Sim. Caminhar e descobrir novas paisagens é dar asas a imaginação, viajar na criatividade e faxinar o que não tem mais espaço para ficar.