A  bela caminhada do acaso no circuito Puy de Rent

Circuito Puy du Rent
A  bela caminhada do acaso no circuito Puy de Rent foi uma grata surpresa, pois existem dias que acordamos com pretensão de fazer o trivial.
Contudo, o trajeto, mesmo não programado, está lá a nos esperar e, por vezes,  pode nos surpreender, não importando se em um percurso nas florestas e montanhas ou, simplesmente, na vida.
Foi  exatamente assim em uma manhã de primavera , com tempo bom, digo sem chuva e vento forte, algo que tem sido raro neste ano de 2024 nos Alpes  da Haute  Provence , na França.
Dessa forma, largamos sem ponto de chegada determinado e deixamos o corpo pedir e o percurso nos conduzir. Do jeito que gosto.
Finalmente, partimos ladeira abaixo do vilarejo de La Colle de Saint Michel,  1.431 metros de altitude,  margeando o Bois de Condamine até  Thorame Haute Gare, por uma pista que em alguns trechos tenho dúvida se mesmo um potente 4×4 poderia romper os obstáculos.
Capela de Thorame Haute Gare. Foto: Alain Lesimple

 

Circuito Puy de Rent

A próxima etapa foi atravessar um pequeno  trecho de estrada até a   Thorame Haute gare.
Local um tanto curioso com a estação de trem e uma grande capela no meio do nada, ou melhor, de 4 a 5 casas, pois Thorame Haute  fica distante cerca de 7km.
Via férrea em Thorame Haute que liga Nice à Digne les Bains. Foto: Alain Lesimple.

 

circuito Puy du Rent

Thorame Haute Gare – Departamento Alpes de Haute Provence- France – Foto: Alain Lesimple.

horame Haute Gare – France

 

 

 

O que eu estou fazendo aqui?

 

Nesse sentido, prosseguimos nosso caminho até uma  sinalização para retomarmos uma trilha, agora em direção à Vauclause.

O trajeto, que sobe para depois descer novamente ao nível do rio Verdon, é variado entre partes montanhosas e dentro da mata.

E o que é melhor! Sem apresentar grandes dificuldades, fora pequenos trechos em cascalho ou  árvores que caíram no meio da estreita trilha.

Isto é, sem esquecer que de um lado fica o precipício.

 

Vista do Verdon do alto da trilha entre Thourame Haute Gare à Vauclause
Foto: Alain Lesimple

 

Tudo isso só para não perdermos a prática da aventura, coração acelerado e a eterna pergunta sem resposta: “o que eu estou fazendo aqui?”

 

 

Trilha em direção ao Puy de Rent partindo de La Tuilière – Alpes de Haute Provence – France
Parte da trilha em direção ao Puy de Rent. Foto: Alain Lesimple.

A escolha do circuito Puy de Rent

Vista panorâmica do alto da trilha entre Thorame Haute Gare e Vaucluse
Foto Alain Lesimple

 

Portanto, ao chegar em Vauclause e novamente na estrada,  o corpo não apresentava sinal de fatiga e aquela voz interna dizia que tinha sede de continuar a descobrir novos trajetos em vez de retornar pelo mesmo local.

Assim obedecemos, depois de verificarmos o mapa da região. 

Optamos por fazer um circuito, passando pelo alto do Puy de Rent e descendo à La Colle de Saint Michel até o ponto de partida.

Em síntese, o total seria mais do que uma meia maratona e muito além do que a expectativa que tínhamos de fazer  uma caminhada básica.

Avante, porque ainda teríamos muito chão a percorrer,  muito a descobrir e o mapa informava que seria em uma montanha mais inclinada e com um grau maior de dificuldade.

Um local chamado Tuilière

Circuito Puy du Rent
trilha de acesso ao Puy de Rent- Via La Tuilière- Alpes de Haute Provence – France

 

Depois da curta caminhada no asfalto, estávamos diante da próxima etapa, em um local chamado Tuilière, onde uma sinalização indicava 8km até o Puy de Rent.

O início do  percurso é em uma pista suave por cerca de 400 metros, e segue à  direita,  atravessando um local mais espaçoso  com plantação de cedros até o local, onde , de fato, a trilha começa, entre as ravinas  de Perayde e de Braquière.

A partir desse momento, a subida passa a ser  em zigue-zague, o que ameniza o efeito da inclinação.
Afinal, seriam 996 de altitude positiva até o Puy de Rent.
Entretanto  confesso que dessa vez a dificuldade apontada foi mais fácil de percorrer do que o meu sinal de alerta havia se preparado.
Inegavelmente um trecho puxado, mas sob controle e dentro de uma floresta.
É fazer para saber.

A subida em zigue-zague

 

Ao atingir Les Baquières, não estávamos nem na metade da subida 3km,  embora desse a impressão de  muito mais devido a inclinação e zigue-zague. 
Porém já havíamos atingido  500 metros de altitude positiva.
Uma rápida parada para um pequeno lanche, dar uma trégua para respiração e deixar o corpo e mente relaxar foi bem-vinda.
De volta à caminhada, e mentalmente contando cada metro superado em distância e altitude, chegamos em um local gramado e plano, tendo a nossa frente a montanha que nos levaria ao ponto mais alto: o Puy de Rent.
Trilha Circuito Puy de Rent . Foto : Alain Lesimple.

Cadê a sinalização?

A partir desse momento, a sinalização desapareceu, ou nossa visão se descuidou.
Não sabíamos em qual direção seguia a trilha.
Eventualmente, o erro de percurso  gosta de marcar presença.

 

Faz parte do ritual emoção.

Trilha Circuito Puy de Rent partindo de La Colle de Saint Michel , atravessando Thorame Haute Gare, trilha de Tuilière. ALpes de Haute Provence , France.
Eu tive calafrio  mental só de olhar a inclinação  que nos esperava e, principalmente, o piso  feito de pequenas pedras que conheço bem e  são pior do que sabão para escorregar.
Ao contrário do que havia pensado, conclui que as inúmeras linhas, quase coladas no mapa, são sempre  precisas.
Trajeto de Pedras e inclinado para acesso ao Puy de Rent – Alpes de Haute Provence- France
Meu companheiro de caminhada, percebendo meu diálogo interno, foi logo avisando que não tínhamos alternativa. E não tínhamos mesmo.
Certamente, nem  tempo de retornar por todo o caminho já realizado.
Com efeito, ali já estávamos na barreira dos 21km, praticamente no final da linha.
Parte da trilha que parte de Tuilière às margens do Verdon – circuito Puy de Rent – France
Como resultado, o  jeito foi escolher o trajeto mais suave  e realizá-lo usando a técnica zigue-zague.
Ele fazia pausas,  virava para trás e tirava fotos.
Eu, focava no final da subida.
Teria tempo de apreciar a vista quando estivesse em terra firme, ou melhor, no pico da montanha.
Montanha de acesso ao Puy de Rent vista do plato Alpes de Haute Provence – France

Enfim, o Puy de Rent

Enfim alcançamos o Puy de Rent e a maravilhosa vista que  de fato compensa qualquer esforço e apaga todos os pensamentos em desistir de continuar e de me aventurar em caminhadas nas montanhas.
Cada dificuldade superada, cada pico alcançado é o melhor elixir contra o avanço da idade e adversidades da montanha vida.
Antes de mais nada, alcançar o que ultrapassa meus medos é fortificante para enfrentar o caminho vida que, ao contrário de nossas caminhadas,  não tem volta.
Puy de Rent – La Colle de Saint Michel – Alpes de Haute Provence

 

 

O retorno de descida, como diz o ditado que todo santo ajuda, em montanha tenho cuidado redobrado para não escorregar.

Ao mesmo tempo,  para não passar despercebido o colorido das flores que mostra a chegada da Primavera, mesmo que no último minuto do segundo tempo.

Uma bela caminhada revigorante.
O Sul da França dá essa oportunidade de estar no bochicho à beira mar, 
no convívio com os animais nas florestas ou com seu interior no silêncio das montanhas.

La Colle de Saint Michel

Um pequeno vilarejo que oferece atividades para todas as estações.
No inverno se cobre com um espesso manto de neve e é um convite para os amantes do esqui ou de caminhada com raquete.
No outono, as árvores se desnudam e cobrem a floresta e montanha de folhas secas. 
Na primavera e verão se descobre e os percursos   se transformam em um imenso tapete verde coberto de diferentes cores de flores.
E a vista do seu entorno durante todo o ano é de tirar o fôlego e perder a noção do tempo.
Distância de Nice: 101 km
Altitude: 1.431 metros
Departamento: 04 Alpes de Haute Provence
Só para lembrar, não esqueça de se inscrever no blog para me acompanhar nesta caminhada.
Até a  próxima!

Comments

  1. Marisa says:

    ontem conversei co sua prima de bh e nos duas admirando sua coragem e receosas pelas loucas aventuras,p mim que odeio frio e nao posso andar muito por causa do pe e sou fa de um bom banheiro estar no seu lugar eh impossivel

    • Virginia Prado says:

      Não é coragem, mas desejo de conhecer, experimentar e viver o que a vida oferece enquanto tenho pernas para caminhar…

  2. Verena says:

    Parabéns pela coragem de enfrentar pedras deslizantes na descida.
    Gostei das flores na chegada.
    A continuação de boas e interessantes caminhadas.
    Abraços do Rio de Janeiro

    • Virginia Prado says:

      Eu posso garantir que é um bom treino para seguir em frente quando aparecem pedras no trajeto vida. Fico feliz de contar sempre com a sua companhia como leitora das minhas caminhadas. Obrigada pelo retorno.

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