Eu percorri o Ravin des Louvrettes, um desfiladeiro nas montanhas de Mèailles e ponto de partida para descobrir a natureza no entorno da pequena e aconchegante cidade nos Alpes da Alta Provença. Certamente, uma opção para fugir dos trajetos oficiais e aumentar o prazer da aventura.
Ravin des Louvrettes: emoção e tensão ao mesmo tempo
Dessa forma, caminhar ao longo desse desfiladeiro, no seu momento seco, é um misto de emoção e por vezes tensão. De mesmo modo uma sensação indescritível de invadir seu íntimo e desnudar seus mistérios. Acima de tudo, é ir além do visível.
Até quem é experiente tem suas dificuldades
Ao mesmo tempo é uma caminhada com diferentes tipos de obstáculos e um verdadeiro treino físico e mental. Porém, nada impossível de realizá-la, tendo disposição, preparo físico mediano e gosto por aventuras.
O caminho das águas
No trajeto des Louvrettes, por onde as águas passam, em movimentos constantes, ritmados ou de total frenesi, fica registrado seu rastro como obras de arte esculpidas nas profundezas.
Desfiladeiro em sua plenitude
Após suas curvas, por vezes, sinuosas, o desfiladeiro exibe sua magnitude sempre presenteando a visão com uma diferente paisagem.
No interior de sua cavidade e silêncio de sua secura, apenas quebrado pelas passadas em cima de um tapete de folhas mortas, é possível apreciar uma montanha através de um ângulo ímpar.
Anteriormente, eu já havia realizado a caminhada no leito do Var, em um trecho irregular, porém plano. Já havia também escalado pequenos e íngremes desfiladeiros como no percurso Saint-Honorat.
Entretanto, cada rio ou ravina tem sua singularidade.
Ravin des Louvrettes e seus obstáculos a vencer
E foi assim no Louvrettes. Por mais de uma vez demos partida nessa caminhada de desbravar o seu interior e ver onde iriamos chegar. Só seu nome já soava como uma poesia e despertava a curiosidade.
Em cada uma dessas caminhadas, o Louvrettes apresentou uma nova descoberta , situação e obstáculos a vencer. Parecia sempre querer brincar de esconde-esconde e preservar algo em segredo para novamente nos encontrarmos.
Em um primeiro momento, seus paredões intransponíveis sem corda, pareciam o fim da linha ou, quem sabe, um teste de merecimento para prosseguir adiante.
Assim, o Louvrettes conduziu nossos passos entre trechos, que visivelmente podia-se identificar a trajetória das águas entre momentos de revolta e calmaria.
Nesse percurso em uma fenda, resultado de anos de erosão na montanha, pudemos regressar no tempo e deixar a imaginação viajar nos achados arqueológicos.
Outras tentativas foram frustradas pelo tempo
Na primeira vez que pisamos no Ravin de Louvrettes foi como ponto de partida para uma caminhada ao Rush. Quase chegamos lá. Na ocasião, fomos barrados pelos dias mais curtos da transição entre outono e inverno. Começamos tarde a longa caminhada e o sol não fez hora extra. Mesmo assim não temos o que reclamar.
E no caminho havia lobos
Dessa vez, meu companheiro de aventura teve a sorte de ver uma aparição relâmpago de um lobo do outro lado do desfiladeiro. Ainda que mais rápida do que o tempo de me alertar ou mesmo com sua câmera poder registrar.
Chegamos quase ao nosso destino, o pico do Rush. Uma tentação para continuar. Contudo, em um terreno acidentado e inclinado, era prudente retornar antes da escuridão da noite ocupar seu lugar.
Porém uma surpresa nos esperava no local que demos meia volta. Pudemos apreciar uma manifestação em favor dos lobos, que me fez acreditar que ainda há uma esperança de um olhar menos egocêntrico da espécie humana.
Em letras enormes sobre o muro de uma cabana, lia-a: “frere des loups” (amigo dos lobos) uma curta, porém forte mensagem ou aviso, que caminhava na contra-mão de todas as outras que, até então, eu havia visto em diferentes regiões de montanhas francesas.
A preservação da espécie infelizmente tem perdido terreno ao prazer da caça ou em nome da segurança dos ovinocultures.
Nesta ironia de vida, mata-se o lobo, que caça para sobreviver, em nome de salvar um rebanho, que é explorado ou mesmo executado em nome do capitalismo que não distingue produto e vida.
É a lei da sobrevivência, embora em um combate desequilibrado. De um lado o homem armado. Do outro, o animal acuado. É o mundo que estamos criando e cultivando para viver.
Sem dúvida uma frase para não esquecer e refletir, exposta em local apropriado.
A trapaça do desfiladeiro
Em um outro momento de caminhada no Louvrettes, que imaginávamos conhecê-lo de olhos vendados, o desfiladeiro nos trapaceou. Erramos o caminho, voltamos, nos sentimos perdidos, mas fomos presenteados com um panorama que apaga imediatamente as partes fora do script.
Assim é o Ravin des Louvrettes. Mas experiência é algo que não se transfere. Só colocando os pés no seu trajeto para de fato conhecê-lo.
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Completamos 7 anos de existência e ainda temos muitos lugares para descobrir, muitas aventuras para realizar nas montanhas e florestas francesas que fazem o coração acelerar e os olhos extasiar…
Até breve!
Ja 7 anos de aventura?????
Sim! Sete anos de blog e muitas caminhadas.