Na contagem regressiva de 2024 e momento de uma reflexão sobre 2023, eu e meu companheiro francês de aventuras e viagens, caminhamos em marcha-ré no tempo para percorrer a trágica história da ditadura nazista. Fomos conhecer o simbolo da barbárie humana: o campo de concentração de Dachau, na Bavária, sul da Alemanha.
Como chegamos em Munique na véspera do último dia de visita ao campo de Dachau, antes do recesso de fim de ano , e partiríamos da Alemanha antes da reabertura 2024, certamente não poderíamos perder tempo e cometer erros de trajeto.
Portanto, contrariando o meu jeito de não ser programada, fizemos todo o itinerário que iríamos realizar no dia seguinte.
Desse modo, optamos por comprar o bilhete que possibilita utilizar todos os meios de transportes públicos em Munique e Dachau por um dia. E deu certo.
Munique a Dachau
Em uma manhã de final de dezembro cinzenta e parecendo sob medida para o cenário que nos propúnhamos a percorrer, pegamos o trem direção Dachau/Petershausen na estação central de Munique, por volta de 9 horas.
Cerca de 20 minutos após, já havíamos chegado na estação da pequena cidade de Dachau que fica a 30 km de Munique.
O ponto do ônibus que passa no campo de concentração ficava praticamente em frente à estação e o trajeto ato memorial demora cerca de 10 minutos.
Visita ao campo de concentração de Dachau
A visita ao Memorial Dachau é gratuita e pode ser feita sem guia.
Contudo são oferecidos os serviços de guia profissional e de audioguia.
De forma que escolhemos a segunda opção, o que recomendo porque vale muito a pena como complemento dos posteres em exposição.
Logo na chegada, algo que me chamou atenção foi o número de visitantes às vésperas do Natal.
Acima de tudo, foi o silêncio, o responsável por criar a atmosfera propícia para uma imersão na história do primeiro campo de concentração da Alemanha.
Dessa maneira, era uma trilha sonora muda que acompanhava os olhares incrédulos diante de cada passo através dos ambientes.
Embora não estivesse sob a mesma expectativa dolorosa de alguns visitantes que tiveram familiares ou pessoas próximas que nunca mais voltaram de Dachau, não tem como não se emocionar.
Nesse sentido, eu compartilhava com todos procurar entender sobre o que até hoje, após 90 anos, continua a ser uma das páginas mais tristes da história da humanidade.
O real de Dachau
O campo de concentração inicialmente foi inaugurado com a proposta para abrigar opositores políticos que representavam uma ameaça à segurança do Estado, entretanto passou a receber condenados pela justiça sob o argumento de ser um local destinado à reeducação de criminosos.
Assim sendo, pouco a pouco foi se transformando em um depósito de escravos/ prisioneiros de diferentes nacionalidades da Europa e por diferentes motivos.
Já no início da Segunda Guerra, em 1939, o local recebia judeus e ciganos, que eram considerados uma raça inferior, padres que lutavam contra a doutrina da Igreja e cidadãos denunciados como críticos e contrários ao regime.
Concentração de prisioneiros
Ali chegavam prisioneiros de todos os países em guerra contra a Alemanha, entre esses resistentes ou simplesmente patriotas que recusavam a colaborar com os alemães.
Dessa maneira, mantendo a fachada de campo modelo, na verdade o local era uma fábrica de mortes.
Em geral, os presos morriam de desnutrição, exaustão e de doenças como tuberculose e tifo.
Dachau serviu inclusive de laboratório de experiência medicais com seres humanos.
A separação por categorias
Logo na acolhida, os prisioneiros eram submetidos à humilhações e separados por categoria.
Constantemente, eles eram expostos a uma rotina de trabalho extenuante, em outras palavras, uma mão de obra explorada sem escrúpulos e sob tensão e pavor constante do brutal e sádico castigo praticados pelos agentes do SS ( guarda de elite do partido nazista alemão).
A história marcada nas paredes
Em Dachau, por conseguinte as paredes guardam tristes histórias. De tal sorte que os detalhes parecem nos contar o terror vivido no campo sem precisar falar.
Com efeito, cada relato é uma viagem a esse pesadelo histórico.
Cada poster é o testemunho de uma vida brutalmente perdida literalmente ou no trauma dos anos vividos em Dachau.
Igualmente, as fotos e desenhos chocam e dispensam legendas. Aliás, não existem palavras para descrever tamanha atrocidade.
Marcas que o tempo não apaga
Certamente , o tempo passou, contudo, cada ambiente ainda carrega o peso de sua existência e nos transporta ao que não vivemos.
Dachau é indescritível. É sentir e emudecer.
É estar presente em ambientes que mesmo em cenas de filmes (A vida é bela, O menino do pijama listrado, A lista de Schindler, entre outros) ou páginas de livros já foram suficientes para nos comover.
Dachau é estar diante da prova da capacidade da crueldade humana e um mergulho à reflexão de que pouco aprendemos ou muito esquecemos.
Partes das instalações só podem ser vistas de longe
Tem espaços, como alguns alojamentos e o crematório, que o acesso não é possível.
Portanto, apenas vistos de longe ou pela janela.
Definitivamente nada que diminua a experiência desse trajeto no Memorial Dachau.
E o que muitos não sabem é que o memorial disponibiliza arquivos para consulta e uma biblioteca para pesquisas com acesso a todos os interessados.
Os nomes e detalhes da detenção dos deportados do campo de concentração nazista eram registrados em vários documentos.
Infelizmente, vários arquivos dos prisioneiros de Dachau foram destruídos pelas SS, pouco antes da chegada da tropa americana em 29 de abril de 1945. Mas alguns documentos foram preservados. Esses arquivos disposição para consulta pública
Dachau certamente é uma caminhada mais difícil do que na mais alta montanha, em virtude de um terreno mais doloroso do que pisar em solo acidentado e mais pavoroso do que as trilhas em falésias.
Seguramente, é um trajeto que desce nas profundezas da obscuridade da mente, entretanto, sem dúvida, de muito aprendizado e reflexão sobre a natureza e condição humana e serve como alerta sobre a banalização da crueldade.
Inegavelmente, eu poderia escrever um post infinitamente longo e ainda assim não seria suficiente para falar sobre Dachau e todo esse turbilhão de pensamentos que o local instiga e o quanto emociona.
Em conclusão, o melhor é ver para sentir.
Seguramente, uma visita que merece ser incluída no itinerário de quem tenha oportunidade de estar em Munique.
Como ir de Munique à Dachau
Trem – Estação Central de Munique (Hauptbahnhof). Pegar a linha verde S2 en direção à Dachau/Petershausen ou o trem regional (Regionalbahn) em direção Ingolstadt.
O trajeto dura cerca de 25 minutos. Em frente a estação de Dachau, pegar o ônibus 726 em direção à Saubachsiedlung e descer na parada kZ-Gedenkstätte ( cerca de 10 minutos).
Existem várias opções de horários.
Aconselho a partir o mais cedo para chegar na abertura do campo de concentração.
Para conhecer os horários dos trens e duração exata do trajeto , consulte: MVV München et Deutsche Bahn.
Por este motivo eu aconselho a comprar o bilhete de um dia (Single/Partner-Tageskarte München M-1) que permite ser utilizado ida e volta no trem e ônibus para o memorial sem ter preocupação.
Esses bilhetes podem ser comprados pelo site, nas máquinas automáticas na estação ou em lojas. Se não domina a língua, eu aconselho comprar com um vendedor. Na Alemanha os bilhetes na máquina são vendidos por parte de trajetos que vai fazer.
Se por acaso comprar o bilhete errado, corre o risco de ter que pagar uma multa.
Também não esqueça de validar.
No,ssa eu jamais teria coragem de ir. nao entrei no museu de set/11. ja n to querendo nem ver mais filme triste
É triste e difícil de conhecer, mas penso que importante até mesmo para tentar entender o presente.
E pensar que o esquecimento desta infame tragédia está nos espreitando! Triste e pesado ! Imagino a energia do lugar!
Sim. A memória é fraca, seletiva e conveniente.