Essa caminhada no leito do rio Var aconteceu depois de uma semana de tempo chuvoso. O dia amanheceu bem frio, cerca de 6⁰ graus, parecendo que o inverno havia atropelado o outono. Apesar disso, o céu estava totalmente azul e o sol, mesmo que ainda tímido, prometia esquentar ao longo do dia. Era o esperado convite para tirar a ferrugem da engrenagem do corpo e afastar o mal humor que já começava a se instalar.
Uma desportista preparada para sair
É impressionante como o corpo de desportista se habitua a dispensar energia. Uma semana sem caminhar é suficiente para mudar o estado de espírito. Portanto, essa atividade física continua sendo meu passaporte da felicidade, minha terapia e meu energizante preferido. Sem contar que a dor de cabeça, que sempre aparece em momentos de sedentarismo, some sem tomar Doril. É minha válvula de escape da tensão acumulada no percurso vida.
Assim sendo, é fácil imaginar que já levantei da cama vestida para partir. Eu estava ansiosa para movimentar as pernas e deixar a mente livre para viajar na paisagem. Eu me sinto como um pássaro quando ganha a liberdade depois de preso em uma gaiola.
Leito do rio Var
Decidimos fazer um percurso considerado light. Nesse sentido, fomos explorar uma parte do leito do rio Var, no trecho inicial da estrada D902, distante 80 km de Nice, e que tem como pano de fundo as montanhas do Mercantour.
Partimos do primeiro local onde a estrada permitia estacionar o carro e dava acesso ao leito do rio.
Eu sempre digo que esse tipo de caminhada é um treino de equilíbrio físico e mental. Uma boa preparação para depois encarar pequenas trilhas em verdadeiros penhascos nas montanhas francesas.
Obstáculos ao longo do leito do rio Var
Os obstáculos ao longo do rio se disfarçam em formas inofensivas como pequenas pedras que por vezes desprendidas do solo causam desequilíbrio. Acima de tudo, Isso sempre acontece naquele momento em que eu penso que dá para alargar a passada. Eventualmente, uma pedra começa a balançar, parece querer testar meu lado equilibrista e haja resistência para não tombar. Eu sempre me lembro das posturas de Yoga.
Em outros momentos, a surpresa é aquela lama com aspecto endurecido que quando piso se transforma em terra movediça. Sempre procuro me guiar pelos rastros dos animais. Quanto mais profunda a passada, lama mais traiçoeira. Assim, vou criando técnicas próprias de caminhadas em leitos de rio. Primeiro pisar leve. Contudo, nem sempre dá para cumprir todo esse ritual. Muitas vezes olho para frente e o meu companheiro de caminhada já está distante.
Detalhes interessantes ao longo do rio
Eu adoro quando ele encontra detalhes da paisagens interessantes para sua visão seletiva de fotógrafo poeta registrar.
Na verdade, sempre há algo diferente no misterioso percurso de um leito de rio, onde um mesmo trajeto pode se apresentar totalmente diferente.
No leito do Var é assim, de um dia para o outro, muda tudo.
Inegavelmente, muda paisagem e grau de dificuldade.
De tal forma que existem momentos até para pequenas escaladas fora do script ou caminhar atravessando de uma margem a outra respeitando o fluxo e desvios do rio.
Como resultado, tem sempre uma pequena aventura que por minutos faz o coração palpitar e não deixa perder o hábito de saber lidar com situações de risco.
Eventualmente chego a pensar que o Var quer me mostrar sua grandeza, mesmo se em alguns pontos se apresenta com uma aparência frágil , insistindo em sobreviver por pequenos filetes d’água.
De repente, ele aumenta seu volume e corre sobre as pedras para seguir seu longo e imprevisível trajeto de 114km, que nasce no cume do Col de La Cayolle, em uma altitude de 1.800 metros até desaguar no mar Mediterrâneo da Côte d’Azur.
Galeria de arte da natureza
Acima de tudo, a linda paisagem do seu entorno é um incentivo à liberdade de imaginação e de criação.
É a constatação de que a natureza ainda insiste em ser artista, mesmo com a ação das mãos humana a destruir seu legado.
Definitivamente, minha distração predileta quando estou no percurso do rio é procurar essa arte natural. Uma verdadeira terapia. E foi o que fiz até onde nos foi possível avançar.
Durante esse tempo, passei horas buscando perfis em pedras, pinturas na lama, dança no movimento da água, esculturas em galhos de árvores, ou mesmo, vida pulsando e persistindo, onde eu achava ser impossível existir.
Um percurso revigorante
Inegavelmente, um percurso como esse me revigora e por algumas horas me faz sentir parte integrante desse local natureza, onde a simplicidade
de existir é suficiente.
Por fim, a linha de chegada estava antes do que gostaríamos de caminhar. Somente conseguimos aproveitar o Var até uma pequena comunidade chamado Enriez.
Em virtude de cercas colocadas por proprietários de terrenos às margens do rio, não pudemos prosseguir ao encontro da Gorges de Daluis.
Anteriormente, eu já tive oportunidade de explorar o circuito Gorges de Daluis, que é realmente único, tanto explorado sobre as falésias ou no leito do Var. Até a estrada no local tem um charme especial, apesar de bastante estreita e sinuosa. Contudo, esse circuito está na lista de ” causos” pendentes à contar.
Até breve!
Você também já fez caminhadas de descoberta da arte natural?
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Adorei as Pedras! Perfis desenhados. Lindo! Parabéns pela sua trajetória.
Obrigada, Gisélia! Esse retorno é sempre gratificante e um grande incentivo para continuar escrevendo sobre as minhas caminhadas pela França.