Nesta série de posts conto minhas experiências em um passo a passo para encarar a Cordilheira Real, na Bolívia.
Seja como for, dei uma pequena pausa nas descobertas das montanhas francesas para desafiar as cordilheiras na América do Sul.
Depois que a idade avança, o presente, que decidimos vivê-lo intensamente, é tão efêmero que mal dá tempo de enxergá-lo.
Afinal, vive comprimido entre o futuro, que de concreto não existe, e o passado, que só podemos revê-lo nas lembranças.
A passagem do tempo
A culpa talvez seja de Einstein que partiu nos deixando a dúvida e a curiosidade de descobrir o tempo de cada tempo ou de um só tempo.
Nessa passagem de tempo na qual somos atropelados e nem sequer vemos a divisão desse tempo acontecer.
A verdade é que o tempo continua a ser uma incógnita, que nem a ciência consegue desvendar.
Diante de sua imprevisibilidade de existência, decidi desafiar a ação sobre o que chamamos tempo de vida, ou idade cronológica, e parti para mais essa aventura no silêncio e solidão das montanhas, onde o tempo parece não contar.
Preparando um trekking na Cordilheira Real
Nesse sentido, eu e meu parceiro francês partimos para um trekking na Cordilheira Real, na Bolívia.
Ele com um currículo de altitudes de mais de 6 mil metros no Nepal. Eu com o meu recente simplório recorde pessoal de 3 mil metros em montanhas francesas.
Nada de estupendo para quem vive a mais de mil metros de altitude. Mas muito para quem foi criada no nível do mar.
Diante da minha condição de caloura, por precaução, decidimos começar nossa viagem desembarcando em Santa Cruz de la Sierra (400 metros de altitude).
Santa Cruz de la Sierra
Em Santa Cruz de la Sierra demos tempo para o corpo acordar e começar a se preparar para o que iria enfrentar em nosso percurso boliviano.
Dessa forma, optamos por caminhar pela cidade para visitar os pontos turísticos, bem como descobrir os hábitos da população e detalhes que passam despercebidos utilizando algum meio de transporte.
Sem um itinerário pré-definido, algo que tenho dificuldade de fazer, decidimos seguir para Cochabamba, que fica entre Santa Cruz e a capital La Paz.
sem dúvida, uma parada estratégica e importante para o processo de aclimatização, visando ao nosso destino Cordilheira Real.
Cochabamba
Fomos de avião para Cochabamba.
Ao pisar na cidade já estávamos a 2.558 m de altitude e tudo certo.
Nesse sentido, corpo parecia nem perceber. Mesmo assim eu tentava avaliar se sentia algo diferente. Anteriormente, meu companheiro francês havia me alertado sobre o mal de altitude, sintomas e quais as providências a tomar de acordo com a gravidade.
Foi quando conheci a sua farmácia ambulante. Um grande pote de plástico, que tinha de tudo para qualquer mal ou acidente em montanhas. De uma certa maneira, isso me fez sentir segura, pois na minha real inexperiência, viajei apenas com uma pequena nécessaire, levando o meu remédio para o joelho, uma cartela de relaxante muscular, outra de medicamento para sinusite e complexo B.
O Cristo de la Concordia
No dia seguinte, acordamos cedo para não perder tempo. Mesmo com o céu nublado e ameaçando chover, resolvemos aproveitar ao máximo o nosso único dia na cidade.
Partimos para uma caminhada tour com parada estratégica na maior atração de Cochabamba, o Cristo de la Concordia, na colina de San Pedro, 282 metros mais alto que a cidade.
As pernas deram sinal verde, todavia o pulmão logo percebeu que precisava diminuir o ritmo e frear a velocidade dos passos.
Afinal, ficava difícil para as vias respiratórias entender porque não optar pelo teleférico.
À medida em que subíamos, a cidade ficava mais distante, a respiração um pouco mais ofegante e os intermináveis degraus pareciam triplicar.
Finalmente o topo e a vista deslumbrante
Depois de algumas pausas ao longo do trajeto para apreciar a paisagem e recuperar o fôlego, vencemos os 1.399 degraus e alcançamos o topo.
Chegamos a 2.840 metros de altitude e, embora estivéssemos aos pés do majestoso Cristo de La Concordia (maior do que o Cristo Redentor no Rio de Janeiro), continuávamos vivos.
Do alto da colina, tínhamos uma panorâmica da cidade e a certeza de que não teríamos pernas e tempo suficiente para dizer que conhecemos de fato Cochabamba.
Rumo ao próximo destino
Mais uma etapa vencida. Assim, pouco a pouco eu disciplinava meu organismo para suportar a altitude, visando aos 5 mil metros que nos esperavam na Cordilheira Real.
Depois de subir e descer ao todo 2.798 degraus, estávamos preparados para literalmente apagar em uma noite dentro um ônibus e percorrer cerca de 500km de estrada até nosso próximo destino: Uyuni Potosi.
Uyuni Potosi
E lá chegamos ao amanhecer. Naquele momento já estávamos a altitude de 3.670 metros, batendo meu recorde anterior da França, mas sem o esforço físico de caminhar até o topo da montanha.
Desde logo, desembarquei com uma ligeira dor de cabeça. Talvez cansaço, mal jeito ao dormir, sinusite à vista… Pensei em tudo, menos no mal de altitude.
Mas essa aventura no Salar de Uyuni , deserto de sal boliviano que atrai milhares de turistas, fica para os próximos posts.
Até lá!
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Você também pode gostar de nosso pré tours na cidade portal para visitar o mágico Salar de Uyuni.
Parabéns! Siga em frente!
Obrigada! A aventura continua.
Dois craques , vamos que vamos ainda tem muita montanha pela frente…
Obrigada pelo incentivo, mas sou ainda uma iniciante no trekking e penso que serei eternamente porque cada montanha tem seus mistérios e suas surpresas. Isso é fascinante. Às vezes te faz medo, outras, proporciona momentos de intenso prazer, como a vida.
Quantas experiências ricas nas suas viagens! Eu acho que você não precisa mais correr para recomeçar; você recomeçou. bjs
Verdade, Cristina. Descobrir e conhecer novos lugares e culturas é um aprendizado. Será? O tempo decididamente não gosta de caminhar e o presente é um eterno recomeçar.