O percurso das alturas

Fotos: Virginia prado/Alan Lesimple

A cada ano que passa, percebo que são as florestas e as montanhas que me mostram os motivos de uma existência. Eu diria que é um tipo de percursos nas alturas.


É a sobrevivência no reino animal e espécies da flora; a efemeridade do tempo de vida; o morrer para renascer e recomeçar a cada estação.


Tudo isso fica muito mais nítido quando a neve tomba e o frio castiga. Durante o dia a fauna se recolhe. Alguns hibernam até a primavera dar indícios que está para chegar. Outros deixam seus rastros, permitindo-nos imaginar seus percursos noturnos.

No barulho do nada, dos passos sobre folhas secas e do vento que assobia nos meus ouvidos, eu consigo abrir espaço para o pensamento escolher o itinerário onde vai caminhar.
Cada passo na natureza, eu me desligo do meu mundo exterior.


A grandeza, o mistério e a imprevisibilidade das montanhas transmitem algo inexplicável capaz de tornar a vida possível mesmo com seus obstáculos e apesar de suas banalidades .


Cada montanha que conheço é mais uma grande descoberta, não só de lugares, mas de horizontes, onde os sonhos se cruzam com a realidade e mostram-me que o limite pode ser além do que eu imaginava existir.


Nos trajetos pelas montanhas, enquanto caminho, faço um passo a passo dos meus percursos de vida e traço novas trilhas a seguir.


Depois de entrar no grupo das sexagenárias, o futuro presente tem pressa de acontecer na corrida do tempo que não diminui sua velocidade e torna o futuro distante quase impossível de alcançar.

Cada metro que avanço na altitude, mergulho na minha solidão e encontro um meu interior que hiberna durante a mesmice cotidiana.


E é esse prazer do sobe e desce das montanhas, do acelerar da respiração e do palpitar do coração que certamente vicia. É a dopamina em ação.
A natureza é sem dúvida um poderoso revigorante, elixir da fadiga mental, calmante do espírito e vitamina da criatividade.
Depois que o meu corpo aquece, o tema, sem pedir permissão, entra na minha mente e, sem perceber, começo a refletir e a redigir um texto. É como se alguém me sussurrasse. É algo não programado, sem quilometragem padrão para começar e finalizar.
É um momento em que sinto o físico e o mental coexistir. E, em uma mesma cadência harmônica, percebo surgir um novo capítulo de vida.
Eu sempre me decepciono por pensar que ao retornar para casa vou conseguir reproduzir com fidelidade cada momento vivenciado e cada palavra escrita mentalmente.
Tudo é mais intenso e mais magnífico do que uma apaixonada pela escrita possa em palavras descrever.


Só mesmo experimentando o que a montanha tem para mostrar e ensinar.

 

 

 

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