Percurso Marcha a ré 2022

 Texto : Virginia Prado/ Fotos: Alain Lesimple e Virginia Prado

 

 

 

Com a proximidade do fim de mais um ano, rebobino meu pensamento e revivo grandes descobertas e aprendizado.

Tem anos que esperamos muito e pouco acontece. Outros, ao contrário. A vida é mesmo imprevisível. Depois dos 6.0, cada ano que passa é inevitavelmente a certeza de que a idade cronológica nos faz mais próxima da linha de chegada e que o importante é não parar e deixar o tempo nos ultrapassar sem nos dar chance de correr para recomeçar.

À medida  em que esse implacável inimigo chamado tempo avança, eu aumento minha lista do que ainda quero descobrir, viver e enriquecer meu singular trajeto de vida.
Neste olhar pelo retrovisor ao longo de 2022, eu desembarco no mês de abril, na França, quando fui apresentada às montanhas dos Alpes.
Mas até chegar lá passei por lindas estradas, lagos, cidades que parecem perdidas entre montanhas e castelos que me fizeram viajar na história medieval.

Dei largada nas montanhas do Vosges, na Alsace.

Atravessei o caminho de Stevenson e seu burro nas Cèvennes e viajei pelas páginas do seu livro.



Testei meu equilíbrio e coração em lindas falésias, às margens de rios e guardei muitos casos para contar.


Eu encontrei nessa mudança de estação na Europa, um cenário perfeito e temperatura ideal para atividades físicas ao ar livre, quando a primavera já anunciava sua chegada, a natureza começava a renascer esplendorosa, mostrando uma mistura de cores magnífica, mas a neve ainda persistia em continuar no topo das montanhas.


Parti para o Brasil quando o calor do verão dava seu primeiro sinal de que pode ser cruel também no continente europeu.

Agora, de volta à França nesta contagem regressiva de 2023, encontro um outro visual, pois o inverno resolveu me surpreender e se antecipar para me recepcionar.


Desembarquei na Provence -Alpes-Côte d’Azur, coberta de neve, com uma paisagem totalmente diferente da que conhecia. Uma beleza fria e sedutora que nos faz perceber a necessidade de se reinventar para recomeçar.


Começo a percorrer os mesmo trajetos realizados no verão e descubro paisagens, dificuldades e sensações completamente diferentes.


Dou uma pausa no frio das montanhas para descer à beira mar. O maravilhoso dessa região é que é possível mudar de clima em poucos quilômetros de distância.
Vou até Sanary  sur Mer para rever trilhas e amigos que faziam parte do meu dia a dia durante meus anos sabáticos na França.


Mas nesta retrospectiva 2022, posso afirmar que alcançar o ponto mais alto de grandes montanhas foi minha grande descoberta.


Essa experiência me proporcionou um misto de sensações antagônicas indescritíveis e, sem dúvidas, foi paixão à primeira vista.
Eu que sempre procurei ficar distante das alturas, descobri aos 6.5 como é bom vencer o desafio.
Eu que sempre fui fiel à corrida de longa distância, descobri nessa atividade esportiva um imenso prazer, a mesma inspiração para escrever e o mesmo fortificante para o corpo e a mente.
Na montanha, eu me encontrei frente aos meus medos, fragilidades e também em companhia da minha força e meu silêncio interior, mesmo se em companhia de alguém.


Precisei como nunca de me concentrar e focar, uma receita infalível para seguir em frente.
Na montanha, eu testei a minha resistência, persistência e limite. Eu me vi diante de um eu que desconhecia. Eu muito aprendi na idade que muitos acreditam tudo já saber.

E foi subindo a montanha que eu compreendi ser essa a metáfora perfeita da vida, que ao nascermos começamos nosso trajeto em direção ao topo. Alguns pegam um percurso mais fácil. Outros, repleto de obstáculos. Alguns param no meio do caminho. Outros alcançam o topo e podem contemplar a paisagem.
Mas é certo que todos descem do ponto que chegaram.

Eu precisei literalmente chegar ao topo da montanha, para entender uma celebre frase de meu pai em sua plenitude. Ao invés de chamar alguém de idoso, ele dizia que a pessoa estava descendo a rampa.
Nesta avalanche de descobertas, continuo minhas passadas pelos caminhos franceses em direção à 2023.
Aguardo você na largada para um novo Correr para Recomeçar.
Até lá!

Comments

    • Virginia Prado says:

      Obrigada, Fernando. Feliz 2023 para você e família. É muito bom saber que tenho sua companhia nos percursos do Correr para Recomeçar.

  1. MAURO SILVIANO DO PRADO says:

    Excelente . …. Nos faz refletir o tanto de tempo que perdemos enquanto ficamos parado , ainda mais na contagem regressiva rumo a desencarnação…. Bjs

    • Virginia Prado says:

      Justamente. A partir da proximidade da linha de chegada,nós temos uma melhor compreensão sobre o tempo, que não podemos fazê-lo voltar atrás, mas melhor aproveitá-lo, sem apenas deixá-lo passar.

    • Virginia Prado says:

      Obrigada! Não é coragem. Eu tenho medo em vários momentos, mas quero viver, descobrir e experimentar tudo que posso enquanto a “descida” da montanha me permitir.

    • Virginia Prado says:

      Obrigada Verônica! Depois que compreendemos que a vida é uma sequência de recomeços, fica mais fácil ter coragem de se reinventar.

    • Virginia Prado says:

      Obrigada Gisélia. O primeiro passo é querer. Você já deu. O segundo é realizar.Siga em frente, experimente e realize seus sonhos e desejos

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