Caminhada da resistência Reims, um percurso além da Champagne





Em pleno epicentro das eleições no Brasil, guerra da Ucrânia, ameaça de ataque nuclear, polêmicas e contagem regressiva para a Copa no Catar, o que não falta é tema em ebulição e fica difícil abrir espaço para um relato de caminhada. Confesso que quase engavetei o texto. Afinal pensei: será o momento para retomar o blog Correr para Recomeçar? Decidi que sim. 

Então, de volta aos caminhos franceses, embora com algum atraso entre a realização dos trajetos e estar compartilhando-os com vocês, podem acreditar que vale a pena me acompanhar. Foram experiências incríveis que até o momento não sei se vou conseguir traduzir em palavras.




Eu consegui vencer o desafio de chegar ao topo de montanhas de até 3.000 metros de altitude e também venci o fantasma da idade, que por vezes resolve lembrar que existe e tenta podar desejos e sonhos. Mas, apesar de conviver bem com a idade cronológica, eu pertenço ao grupo que acredita na idade biológica e, enquanto essa me der o sinal verde, eu vou seguindo em frente.

Na verdade, a minha vontade é recomeçar o blog já descrevendo as caminhadas nos Alpes Franceses. Mas, eu vou segurar a minha ansiedade  em dividir essas grandes aventuras, que me permitiram me conhecer um pouco mais, porque até chegar lá, eu descobri belos lugares que merecem ser registrados.

Foi no meio de abril que eu dei largada no meu trajeto pela França. Temperatura amena e ideal para praticar atividades ao ar livre, quando o frio europeu ainda resistia em partir e o sol começava a esquentar pouco a pouco para avisar que o verão estava a caminho.

Mais uma vez, eu cheguei em momento de eleição. Assisti o povo francês ir às urnas para reeleger um presidente, que muitos não gostariam como governante, e reafirmar que naquele país a extrema direita não tem espaço pelo voto do povo.

Reencontrei uma França ainda tentando retomar a vida normal, assim como todo o mundo, após dois anos sob intensa mudança de hábitos por conta da epidemia de Covid.

Instalei-me em um país apreensivo com a falta de limites e ações imprevisíveis de um cruel delirante presidente chamado Putin. Uma apreensão que ainda perdura por meses e já reflete em todos os setores da vida dos franceses, inclusive econômico, com uma inflamação, que não estão acostumados a conviver, e uma incógnita sobre como será a passagem do inverno 2022/23, diante da crise energética que assola o país, principalmente se essa estação resolver ser tão rigorosa como foi o verão.




O acaso novamente me desembarcou em Reims, região de Champagne-Ardenne, última cidade francesa que visitei antes de retornar ao Brasil, em 2019.

Hoje, percebo local ideal, onde entre passadas pela história dessa cidade, aprendi a força e poder da resistência para recomeçar e se reinventar. Ali, sem perceber, já começava o meu treino mental, para enfrentar o que viria pela frente.

Em Reims e seu entorno, como o nome da região já indica, respira-se champagne e é difícil fugir do circuito mais nobre desse local. Em qualquer trajeto que faça vai sempre estar diante de imensos e belos vinhedos e atrativas casas de champagne, o que desperta sem dúvida uma enorme curiosidade de conhecer o segredo que faz a bebida dessa região ser reconhecida internacionalmente .




Mas vou confessar, e vai ser difícil acreditar, que ainda não foi dessa vez que percorri o tradicional circuito da champagne. Porém, não deixei de degustar e apreciar a famosa bebida diretamente da fonte. O difícil é desacostumar a ter o gosto apurado.

Mas como o blog se propõe a escrever sobre o que eu vi e experimentei, deixo a sugestão desse roteiro para o Office de Turismo de Reims ou, quem sabe, para um próximo desembarque na região.

Agora vou dar largada em um outro percurso tanto quanto interessante, pois engana-se quem pensa que a atração turística nessa cidade se resume ao circuito da champagne.




Reims tem lindos parques, florestas em seu entorno e uma linda história de resistência para contar. A cidade foi um dos alvos de bombardeios durante a primeira guerra, precisou se reerguer e, hoje, recebe turistas de diferentes continentes.

Em Reims, como nas demais cidades francesas, os amargos anos de guerras, que deixou um saldo de destruição de vidas, de famílias e de monumentos, continuam presentes em forma de homenagens e lembranças recontadas que atravessam gerações. Talvez uma maneira de repelir a possibilidade de reviver pesadelo igual. Uma atitude que me faz refletir diante do nosso pouco caso em preservar nossa história, da capacidade de ignorarmos nossos anos de chumbo e continuarmos a acreditar que tudo se resolve depois da quarta-feira de cinzas.

Portanto, se o destino de viagem é a França, fica a dica para incluir alguns dias nessa aconchegante cidade que fica cerca de 140 km da capital Paris e com opções de transportes como ônibus, TGV e blablacar, além da possibilidade do aluguel de carro .

Ao pisar em Reims, mesmo sendo uma pessoa, como eu, que adora descobrir o que não é ponto turístico, é impossível fugir da primeira parada obrigatória.


Cathédrale de Notre Dame de Reims




Confesso que sendo a segunda vez que visitava a catedral, eu pensei que não me surpreenderia. Mas sua magnifica arquitetura, cada detalhe na fachada e interior, reconta seu passo a passo através dos séculos e não tem como evitar dar marcha à ré e se emocionar com sua história de se reconstruir.

Construída no século XIII, e considerada uma das mais importantes catedrais góticas da França, Notre Dame foi um dos alvos de bombardeio pelas tropas alemãs, sendo atingida por cerca de 300 balas na Primeira Guerra Mundial.

Hoje, reconstruída, expõe esses tristes momentos, por meio de fotos em exposição no seu interior. Talvez uma forma de deixar ecoar o grito de indignação dos rémois, mas também de todos os franceses.

Entre as suas 2.300 estátuas, vale a pena identificar o anjo sorridente que não passa despercebido aos visitantes. E, misturados aos vitrais sobreviventes do século XVIII, é possível apreciar os de Marc Chagall que acrescentam ao local uma beleza peculiar.

Continuando o trajeto, e caminhando mais alguns passos à direita, está a segunda parada obrigatória:



Palácio Tau




O Palácio Tau, local em que o rei e sua comitiva ficavam durante as festividades da sua coroação. Reims, para quem não sabe, é também conhecida como a cidade dos reis, por ter sido escolhida como local de coroação de reis franceses até Carlos X, em 1825. O curioso nome do palácio tem origem na sua construção em forma de T (T em grego é Tau) por volta do século IX,. Durante as guerras esse foi danificado e só restaurado e aberto ao público em 1972.

Saindo do palácio, é só esticar a passada por cerca de 1.5 km até a Basílica de Saint Remi. Eu quase perdi a oportunidade de conhecê-la e foi uma ótima opção no último minuto do segundo tempo da minha estada na cidade.


Basílica de Saint Remi




Apesar de ter menos holofote turístico do que a catedral, essa bela basílica, estilo românico-gótico, construída no século XI, serviu a uma abadia real e sua finalidade de construção foi para guardar a Ampola Sagrada (frasco contendo um óleo sagrado, utilizado no batismo de Clovis em 498,) e também as relíquias de Saint Remi, bispo de Reims que converteu Clovis I, Rei dos Francos.

Durante a Revolução Francesa, essa basílica foi saqueada e o túmulo de Clovis foi refeito no século XIX.

Ao lado, nos antigos prédios da abadia, encontra-se um museu no qual pode-se conhecer um pouco mais sobre a história da cidade. E, dependendo da época, poderá ter mais sorte do que eu em fazer uma pausa estratégica para assistir concertos que são realizados nesse local, e, assim, tomar folego para dar largada no circuito natureza que a região oferece.
Mas esse percurso fica para o próximo post. Depois dessa caminhada através dos séculos, a sugestão é colocar as pernas para o alto e não perder a hora da próxima largada.

Comments

    • Virginia Prado says:

      Obrigada! Eu já estava sentindo falta das minhas viagens e descobertas em percursos exteriores e interiores. Essa temporada de confinamento só acumulou o desejo de colocar o pé nos caminhos franceses.

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