Percurso Bizarro

2020, ano bissexto,

ano bizarro,

ano em que Saturno se alinhou à Júpiter,

e na Terra tudo se desalinhou.

 

2020, ano que passou e

de mãos atadas nos deixou,

com uma lista por acontecer,

que não vingou.

 

2020, ano que a palavra de ordem foi aprender

a sofrer,

que a balança da vida se desequilibrou,

que choramos perdas queridas e desconhecidas,

sem direito a despedidas.

 

2020, ano que assistimos o tempo correr

sem nada poder fazer.

Ora rapidamente, sem evitar a dor.

Ora lentamente, para deixar saudade

de uma tal liberdade.

 

2020, ano que ficamos confinados

nas nossas casas, memórias, tristezas e solidão.

Deixamos o corpo hibernar até reclamar.

Curamos a cegueira que estava a todos contaminar.

Passamos a valorizar o habitual e o trivial.

Passamos a sonhar com o que tínhamos e não conseguíamos enxergar.

 

2020, ano que fomos forçados a conviver,

palavra difícil de entender e,

nos últimos tempos, de querer.

 

2020, ano que foi preciso existir um inimigo invisível,

capaz de crueldade visível,

para nos transportar do virtual para o real,

para valorizar um sorriso,

querer um abraço,

desejar um beijo,

sentir falta do calor humano

ou de um simples tocar.

Querer ir e vir.

Querer poder sair.

Querer simplesmente poder estar.

 

2020, ano que foi preciso existir um vírus

para deixarmos de viralizar e

voltarmos a sonhar em realizar.

 

2020, ano que foi preciso nos contaminar para nos fazer recuar.

Perder, sofrer, esbravejar, cair e levantar.

Olhar para o lado e para dentro e

decidir procurar a essência humana,

que em alguma parte do trajeto se escondeu

e nunca mais apareceu.

 

2020, foi o ano para lembrar que

José Saramago, grande escritor português, avisou e até antecipou,

mas não tivemos olhos para enxergar.

Cegos naturalmente nos tornamos.

Do todo, para o individual, optamos.

Cegos naturalmente nos conformamos em estar

para não ter trabalho de enxergar.

 

2020, ano que foi preciso um inimigo invisível para nos resgastar

do buraco fundo que estávamos a cavar.

Foi preciso um vírus para nos fazer rever e querer mudar.

Será?

Mas 2021 chega para estimular a mudança sem pestanejar.

Esperar, sem expectar.

2021 chega para nos empurrar e não ter medo de se aventurar

porque a vida não vai aguardar um lento despertar.

É desejar seguir e

Correr para Recomeçar!

Partiu 2021!

2020, ano bizarro, em que Saturno se alinhou a Jupiter,e na Terra tudo se desalinhou.

Comments

  1. Maria Lucia says:

    2020 ano que estará na nossa vida marcado pela descoberta da importância do outro na nossa vida! Como sempre , impecável seu texto! Parabéns!

    • Virginia Prado says:

      Obrigada! o retorno de leitores me deixa entusiasmada para continuar dividando meus percursos de caminhadas, de corridas, de descobertas e de vida. Verdade! Espero que o aprendizado não passe “como uma onda no mar…”

  2. Verena says:

    Que esse Novo Ano seja cheio de Luz e sabedoria.
    Gostei do texto.
    A Luz venceu!!!
    Mantra para esse novo ano, vamos repetir!
    Forte abraço.
    Verena

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