Em pleno confinamento, quando teoricamente deveria ter mais tempo, deixei o tempo passar até que o preconceito decidiu me testar. Foi nesse cenário de quarentena que Correr para Recomeçar chegou ao post 100 e eu, sem programar, decidi largar em um até então inusitado percurso para mim. Pegando carona nos preparativos para retornar à França, novos percursos descobrir e com os leitores do blog poder dividir, entrei em um site de encontros francês. E…será? Eu agora tenho um namorado francês?
Nessa corrida de quilometragem indefinida, chegar ao post 100 é a representação de resistência e persistência em diferentes percursos de corridas e de vida. É o registro de descobertas, de desvios de caminhos e muitas surpresas. E haja surpresa! O post 100, que eu desejava compartilhar um inesquecível percurso, se apresentou em um ambiente atípico para quem a inspiração chega na medida em que a passada avança na liberdade que a natureza propicia. Esse desafio me fez mergulhar em um fatigante turbilhão de ideias que pausou minha inspiração. O vírus chegou, se aproveitou e tudo paralisou. Assim fui ultrapassada por um anônimo corredor que literalmente de pés atados me deixou.
Mas na tentativa de espantar uma solidão não escolhida, uma mudança imposta, um medo sem definição e um futuro sem rumo certo, uma onda virtual, que inevitavelmente invadiu a vida de todos, também me levou. Eu, que procurava
apenas caminhar no vácuo, fui empurrada pela curiosidade para dentro de um universo que como novo se apresentou.
É difícil acompanhar o ritmo desse mundo acelerado, ainda mais no tema relacionar, sem toques e cheiros, que em segundos pode tudo mudar. Nada contra o novo e muito menos, o virtual, mas sempre com um pé no freio para não roubar o espaço do real. Adaptar-se a novos formatos de conviver é uma questão de sobreviver, se no meio do caminho não quiser ficar, o vírus chegou para avisar: é preciso mudar!
Sem querer perder o ritmo dessa corrida, apelei ao fôlego da coragem, joguei fora o “pre” do conceito para esse novo percurso poder explorar. Quebrei minhas barreiras, atropelei a timidez e escondi a vergonha. Ao longo do trajeto, um mundo novo descobri ou antigo resgatei. Ainda não sei bem como definir. É fato que o bem que produz uma palavra gentil, eu havia esquecido existir. Estimulante e poderosa, essa transita entre os dois mundos, virtual e real, sem perder a capacidade de fazer a passada acelerar, o coração disparar e as pernas flutuarem.
Como tudo que é desconhecido, o virtual é instigante, envolvente e curioso, mas muitas vezes duvidoso. É um mundo em que o ser ou não ser pode perfeitamente acontecer. Mas tem a tecnologia para ajudar a saber com cautela atravessar e a hora certa de desacelerar para não tropeçar e se machucar. Pode também ajudar quando um outro caminho precisar encontrar. Em princípio pode assustar. Tem gente que quer, mas não entra. Tem gente que entra e se esconde. Tem gente que esconde que entra. Não muito diferente do que no mundo real pode encontrar.
Qualquer percurso é sempre uma lição de vida e torná-lo prazeroso é combustível. Afinal, é muito bom percorrer o trajeto do amor. Entrar no mesmo ritmo de um parceiro de corrida e pretendente a ser de vida é um desafio, virtual e real. Cada avanço é uma conquista. Mas não se esqueça: o vírus existe.
Não é fácil, da noite para o dia, fazer parte de um grupo de risco. Muito
menos, assistir a idade cronológica se marginalizar e a biológica pouco considerar. Pior ainda, de um governante escutar a importância da sua existência em segundos se deteriorar, nem merece comentar.
É chocante e de fato preocupante. É novamente a idade cronológica que quer a todo momento lembrar que o tempo que o vírus rouba não há como um dia recuperar. Então, não dá para parar e só lamentar. É o momento de tudo que puder aproveitar. O presente agora é visível e o futuro por que a sua mente ocupar? Basta o confinamento que a sua liberdade já está a roubar.
Não é fácil acostumar a se ver como uma placa ambulante de alerta ao perigo que querem ou se sentem obrigados a evitar. E a idade biológica onde está que nem mesmo o vírus quer enxergar?
Esse ser invisível aos olhos não quer mesmo cooperar. Atropela planos e sonhos, revira a saúde mental e mundial. Atinge em cheio a economia e a vida de um planeta em agonia. Não é difícil imaginar o impacto em um país que já estava apoiado em duas muletas e na incerteza se um dia voltara a caminhar. Será que o vírus vai aliviar?
O vírus continua atirando, para todos os lados, a necessidade de tudo mudar. É difícil entender? Enquanto a cegueira perdurar, sem freios, esse invisível inimigo escala à galope, ainda sem calcular o que pretende alcançar, mostra ser mais terrível do que o problema distância na arte de se relacionar. Testa a sabedoria e criatividade para os instintos dominar. Despe a fragilidade individual e do todo, sem qualquer censura, para um planeta em apuros mostrar. Coloca nas mãos da individualidade humana o poder de viver ou matar. Acerta em cheio o pensar. Faz o presente se destacar e o futuro deixar rolar.
A contagem regressiva ajuda a amenizar, mas a distância tem dias que quer mesmo dificultar. A alternativa é olhar para o próximo e constatar que o perto também se tornou longe e que, assim como o vírus, o invisível aos olhos ganhou seu lugar. Como é difícil amar em tempos que a palavra de ordem é distanciar. Mais difícil ainda se existe 9.000km entre esse gostar que a todo custo tenta cruzar a linha do virtual porque só quer se tornar real.
Tudo é uma questão de Correr para Recomeçar e acreditar que o vírus vai passar. Continuo correndo e aguardando o namorado que a qualquer momento pode chegar e, espero, desta vez, para ficar.
apaixonou…perdidamente
você está dizendo…
Parabéns, muito bom esse texto.
Obrigada, Verena! E vamos em frente nos percursos e nos recomeços…
Sensacional, ja ja ele chega! Vcs merecem!
Obrigada pelo incentivo! Estou pensando seriamente em ter uma conversa franca com o vírus.
Que novidade boa essa!!!
Que o virus pense como você.