Tem gente que corre escutando música. Eu corro escutando informação com música nos intervalos.
Eu corro escutando rádio. E foi em mais uma corrida matinal, com escuta do noticiário, que um ato falho da Embratur, empresa responsável por promover o turismo brasileiro, me deu a pauta do percurso.
Larguei em busca da qualidade de vida carioca que turistas assustados e também moradores apaixonados pela Cidade Maravilhosa não conseguem encontrar no ir e vir e até mesmo no ficar.
Será que é esse o Rio de Janeiro que queremos? Um trajeto difícil até para quem acha que já está acostumado.
A difícil vida do turista no Rio de Janeiro
Inicialmente, deixei minha mente correr até as trilhas cariocas, pegando carona na queixa da turista brasileira que ao decidir mostrar a beleza do Rio de Janeiro bateu de frente com a violência cotidiana.
Eu entendo a turista, embora seja contra a tendência que brasileiros têm de depreciar o que é nosso, digo em termos de Nação.
Mas a culpa é sempre da imprensa e não do factual ou da estranha preferência nacional de valorizar a notícia ruim. E se tem plateia, certamente se mantem invicta na corrida da difusão. Afinal, a notícia tem que dar lucro, literalmente falando.
Nesse sentido, eu a entendo, mas volto na quilometragem da corrida e naquela percorrida em busca da segurança perdida ou será que de fato nunca verdadeiramente alcançada?
Segurança no Brasil X na França
Antes de mais nada, pego um desvio e retorno à minha temporada na França. Logo lembro o quanto foi difícil dar folga ao terceiro olho, aquele que assume o papel de vigilante e fica correndo da nuca às laterais sempre em estado de alerta.
Sob o mesmo ponto de vista, penso que tempo de convivência com esse tipo de situação nos faz acreditar que isso é normal e consequentemente veda a percepção do quanto pouco a pouco nos faz tão mal.
Para quem nunca teve esse medo, parece TOC ou coisa de maluco. Fica sem entender, mesmo se você tentar explicar. O melhor é deixar para lá porque o gringo nunca vai captar.
Tinha pavor de sanglier (javali)
Em contrapartida, eu entendo essa pessoa porque é difícil aceitar ter medo de sair de casa. Da mesma forma, eu gosto de correr ao amanhecer.
Na França, eu marcava encontro comigo mesma dentro das florestas da Provence Alpes Côte D’Azur e da Alsace. Em outras palavras, se foi sorte, eu não sei, mas não fiz diferente dos habitantes da região.
Trabalhava meus medos, sentindo receio de me aventurar e correr o risco de cruzar com algum animal, se, por ventura, em seu momento raivoso. Em síntese, naquele período os meus medos se resumiam ao pavor de um tête à tête com um sanglier (javali).
Mas ter medo de um animal é diferente de ter medo de um ser humano. Talvez pela irracionalidade do racional. É lógico que não existe risco zero até para ataque de humanos em qualquer parte do mundo. Os índices de violência ainda servem para sinalizar em quais caminhos podemos nos arriscar. Mas na hora de correr, caminhar ou passear não é nisso que queremos pensar.
O Brasil, e no caso específico o Rio de Janeiro, tem o privilégio de ter uma beleza natural que encanta os olhos e conquista todos que de perto podem um dia apreciar. Uma mata que faz inveja ao mundo. Trilhas que levam a pontos turísticos e vistas deslumbrantes.
Eu me sinto como a turista. É ter e não poder aproveitar. Eu quero correr e caminhar nas florestas do Rio, mas a todo momento me pego literalmente empacada na entrada de uma trilha. É a luz vermelha que não perde a oportunidade de piscar e deixar a dúvida se instalar. E a segurança, onde está?
Terra de ninguem
Triste