O percurso 2020 começou surpreendendo cariocas e turistas no Rio de Janeiro. Em pleno verão, com a temperatura que adora bater ponto na casa dos 50º graus, moradores ou não, e sem poder de opção, largaram na Corrida da Água, em uma cidade na sua capacidade quase máxima de lotação, como era de se esperar nesse período pós-Reveillon e pré-Carnaval.
Uma competição que de imediato despertou a atenção internacional ao fazer a Cidade Maravilha despencar no ranking de qualidade de vida. Nas primeiras passadas, já entrou no calendário verão carioca versão 2020 disposta a deixar lembrança, mesmo que na categoria péssima.
Uma corrida atípica em todos os sentidos e que não permitiu aos participantes fazer um planejamento estratégico. Corredores habituais ou sedentários por natureza, preparados ou não, se veem correndo e se cruzando ao longo do trajeto sem ter a menor ideia do tamanho do percurso, tempo de prova e local de chegada, uma informação exclusiva da organização e que, talvez, somente o pelotão de elite teve o privilégio de acesso.
Uma corrida sem inscrição prévia e que o valor aumenta a cada tempo despendido ou quilômetro rodado. O retardatário sofre o baque, emocional e na carteira, duplicado. Mas justiça seja feita, “nunca antes” nenhuma competição invadiu como essa o pensamento de seus participantes e conseguiu tal sprint para colocar seu produto entre os itens de maior consumo.
O tema água passou a estar presente na vida do participantes antes mesmo de entrar no percurso para mais um dia de prova. Hábitos simples e diários como escovar os dentes, comer, lavar o rosto e as mãos da noite para o dia se tornaram complexos. Mas é a hora do banho que passou a ser o momento reflexão e é capaz de colocar todos os participantes no mesmo patamar. É o momento vulnerável de quem superou obstáculos e a concorrência durante todo o dia. É a hora de estar diante de um impasse e questionar se todo o esforço foi em vão. Mas não há alternativa. O jeito é fechar os olhos, deixar a água jorrar sobre o corpo e tentar na medida do possível se sentir limpo por dentro, em pensamento e atitudes. Isso sem exageros. O cheiro que exala, que nem perfume francês é capaz de dar solução, é de dar nojo até para o nariz rinítico.
Por ironia do destino ou do nome, na Corrida da Água o que há de mais escasso é justamente o produto água, que passou a ser disputado a tapa e no cronômetro. Pernas para quem tem condições de levar vantagem. Muitas vezes é preciso percorrer quilômetros e terminar a noite com a boca seca. O produto, até então disponível com pequenas e pontuais aparições de destaque no ranking de verão, ganhou notoriedade e lugar cativo no setor preocupação.
A cada etapa percorrida, eu me convenço de que que essa prova deve ser projeto de algum corredor de elite, tipo jogada de mestre em que os organizadores investem pesado na criação de expectativas para que o final do percurso seja muito esperado. Corredor que é corredor sabe que depois de alguns quilômetros a euforia chega naturalmente, o racional fica debilitado e as passadas fluem com mais facilidade em direção a desejada linha de chegada.
Justiça seja feita, o marketing dessa prova está com tudo. Passo a passo tem se mostrado focado e certeiro em alcançar seu objetivo final. Objetivo que ainda é uma incógnita para maioria dos participantes e motivo de grande inquietação e especulação. Uma coisa é certa: vale tudo para ser uma corrida de sucesso para alguns e que pode mudar os rumos da água carioca.
De todo esse pesadelo do Verão Rio 2020, vale lembrar que só nessa pequena amostra em um evento que leva a assinatura da organização ou falta de organização humana já dá para imaginar como será quando for algo orquestrado pela mãe natureza. Essa não falha e muito menos perdoa.
É bom estar preparado. Vai ser preciso correr para não deixar acontecer.
Lamentavel e vergonhoso
Difícil de acreditar. Essa corrida não precisava fazer parte do calendário Rio 2020
Se ñ cuidarmos vai faltar…
POis é….O jeito é correr para não chegarmos lá.
Que bom que poderei me deliciar com seus textos inteligentes e atuais, tal como na época da Revista Viva. Já fiz minha assinatura e divulguei seu primoroso texto. Infelizmente, nesta “corrida” somos todos perdedores.
Obrigada Denise! Estou super feliz de contar com a sua companhia nos percursos de corrida e vida.
Excellent post of Virginia Prado, that I had knew since of 70’ around the races in Rio de Janeiro. I think she was a writer for “A Corrida” from Printer Promoções, together with Luiz Carlos Mendonça, Eleonora Mendonça and Paulo Cesar.
Verdade! Trabalhei na revista A Corrida com Eleonora Mendonça e também na Viva, com José Inácio Werneck e depois com Luiz Carlos Mendonça na revista Aeróbica. Quando a tv web començava a despontar como um veículo promissor, participei do lançamento da TV Largada. Um novo formato para falar direto com os corredores, que eu ainda espero poder relançar. Continuo tendo prazer em escrever e incentivar as pessoas a conhecer os benefícios da corrida. Esse retorno é sempre importante. É muito bom contar com a sua companhia nas minhas aventuras pelos percursos de corrida e vida. Até o próximo!