No mesmo fim de semana em que Eliud Kipchoge e Brigid Kosgei corriam em busca de suas metas, eu também dava minhas passadas em direção aos meus objetivos. Em comum com os corredores quenianos, a maratona. Ele, em Viena, e ela, em Chicago, focados em ultrapassar seus limites e bater recordes. Ele, em ser o primeiro maratonista a completar 42,195 Km em menos de 2 horas. Ela, a derrubar a marca que há 16 anos pertencia à britânica Paula Radcliffe. E eu? No Brasil, tentando aplicar na prática a tática do campeão de seguir sem olhar pelo retrovisor, ultrapassar meus obstáculos e encontrar uma rotina com espaço para introduzir de vez o treino de todo dia com vistas a poder voltar a completar uma maratona. E foi assim, entre passadas, sem performance, que São Paulo se despontou e encantou esse olhar de corredora viciado em cruzar com montanhas, verde e mar.
São Paulo, eu só conhecia em rápidas passagens, sempre por motivo de trabalho, sem tempo para o tênis na bagagem. São Paulo, eu visualizava o concreto de uma cidade sem espaço para apreciar o pôr do sol.
São Paulo, eu imaginava acionar o cronômetro ao amanhecer para o workaholic não desviar seu trajeto. São Paulo, eu via sempre correndo, mas para uma noite com diferentes opções gastronômicas e culturais.
São Paulo tem de tudo isso um pouco, não tem mar, mas tem o verde dos parques em pleno centro urbano que me fez voltar à França e viajar em pensamento pelos percursos de Paris às regiões da Provença e da Alsácia.
No bairro de Vila Madalena, onde me hospedei, muita subida, calçada com desníveis, mas muitas escadas para trabalhar a musculatura, antes de pensar em quilometragem.
Estendendo o percurso até Pinheiros, o Parque do Povo a espera. Um pequeno circuito, mas com um belo gramado para variar de piso. Joelhos e coluna agradecem.
Finalmente o percurso Ibirapuera. Em um running tour, parti de Vila Madalena, inicialmente, caminhando, enquanto a calçada irregular insistia em me avisar para conter a ansiedade de aumentar a velocidade do passo e assim poder admirar a arte nas ruas em todos os cantos e por todos os lados.
Beco do Batman e, logo adiante, google maps me leva para dentro de um cemitério. Isso mesmo? Confiro. Sem saber se para cortar caminho ou ponto turístico, não questionei e entrei. Eu me perder pelo trajeto não estava nos planos. Desejei muita paz para todos que ali descansavam e acelerei o passo para deixar claro que ainda estou longe de querer repousar.
Atravessei Pinheiros, com ruas mais planas e corpo já aquecido. Dei largada na Avenida Brasil em uma velocidade entre o caminhar rápido e o correr lento, que me permitia ao mesmo tempo percorrer o olhar e muitas vezes não resistir e parar para registrar o charme de algum lugar ou de um simples detalhe. Nos cerca de 2 km de avenida, me senti dando volta ao mundo, cortando ruas com nomes de países das américas e Europa até estar diante do Ibirapuera.
Ao colocar os pés no parque, os termômetros marcavam 37° graus. Nada que pudesse assustar quem está acostumada a enfrentar um calor carioca que parece literalmente disposto a te sugar. A falta de preparo físico ficou do lado de fora do Ibirapuera, barrada pelo impulso de corredora que encontra seu oásis. Eu me senti em casa, mesmo sem ter o mar a me acompanhar. Eu dei um sprint nas lembranças, percorrendo o Central Park, durante a Maratona de Nova Iorque. Eu me permiti deixar a saudade dos caminhos franceses me guiar, sem ponto certo para chegar.
Em terra batida, eu me misturei aos corredores e muitos, acompanhei. Estiquei até quase dobrar o trajeto de 6 km, cruzando o parque, de ponta a ponta, com direito a circuitos alternativos, à arte da natureza e até uma esticada às maravilhas do artesanato brasileiro, no 13° Salão do Artesanato Raízes Brasileiras. Conferi de perto as bolsas da Campo Grande a Tiracolo. Produzidas com material reciclável, é a prova que sempre existe um recomeçar para tudo e todos.
Somando ida e volta de Vila Madalena ao parque, alternando lentas e rápidas passadas, acabei percorrendo 21 km. Mais do que pensei ser capaz. O prazer de correr aliado ao de conhecer novos lugares é o melhor combustível para começar ou recomeçar.
Recarreguei a determinação à la Kipchoge de seguir em frente na minha quilometragem de corrida e de vida disposta a superar obstáculos e nunca parar de correr para recomeçar.
O que vi e senti, as fotos podem até dar uma ideia, mas para saber de fato só mesmo se experimentar São Paulo passo a passo nos pés e no olhar.
Gostou heim prima?
Sim! Com o olhar de corredora descobri uma São Paulo que me permitiu matar a saudade dos parques na França.
Você sempre se superando!!! Adoro!!
Tentando…Não dá para ficar parada, enquanto o tempo corre. Obrigada!
Muito bom👏👏👏
Imperdível.