É o corpo que pesa, o joelho que dói, a miopia e a fotofobia que se unem em complô. É a preguiça que se instala, encontrando abrigo em inúmeras desculpas para não ter culpa. É o recomeço pretendido que cede espaço ao não querido. É o tempo que passa e deixa a vida levar sem chegar a algum lugar. É repetir recomeços, embora deseje um novo recomeçar. É recomeçar por recomeçar até perceber a necessidade de se reinventar.
É correr para encontrar esse novo olhar que amplia a visão sobre o percurso a alcançar. Mas muitas vezes é preciso se empurrar para conseguir largar e não basta apenas recomeçar. É hora de também se reinventar.
É preciso enxergar que o momento pode passar e depois terá que despender mais energia para chegar onde um dia pensou já estar. Não adianta desanimar. Sem se movimentar, só o tempo vai passar. É preciso largar para recomeçar.
Não importa de qual lugar ou mesmo se desvios encontrar. Pode até descarrilhar que sempre algo diferente vai encontrar. Só não pode estacionar e deixar a vida correr. É preciso querer praticar o combo reinventar para recomeçar.
E foi exatamente o que fiz depois de mais uma temporada longe das corridas de todos os dias. Parti para mais um novo começo na corrida e na vida, em um conhecido percurso: Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro.
Corpo e mente iniciam a corrida. Lentas passadas avançam no trajeto, dando tempo à respiração de pegar o ritmo, que a longa pausa fez questão de se apoderar. Em direção oposta, a mente percorre o que ficou para trás em algum lugar. Transitar pela memória faz parte do pacote reinventar para recomeçar.
Na pista de 3.3 km, que atravessa o Parque do Flamengo do Obelisco (monumento Estácio de Sá) até o Museu de Arte Moderna MAM, avisto lembranças boas e ruins. De um assalto ao treino diário para a primeira maratona. Das corridas solitárias à primeira carona com o Expresso das Seis, que se tornou meu grupo de corrida e com o qual tive o privilégio de conhecer um Rio de Janeiro, antes do amanhecer. Trajetos inimagináveis, sob um olhar diferenciado entre passadas aceleradas e na companhia de um grupo eclético com um ponto em comum inquestionável: o prazer de correr.
Como é bom reviver em pensamento bons momentos. Mas também impressionante a capacidade de acumular e armazenar até o que gostaria de não mais lembrar e deixar o tempo apagar. Se de fato fica registrado na memória é porque algo pode acrescentar para não mais repetir e no percurso continuar a correr para recomeçar.
Ida e volta, já são 7,6 Km sem programar. Todos os obstáculos do corpo e da mente parecem que descobrem não ter mais espaço para atuar, quando o recomeço do reinventar aumenta o passo e quer mais longe alcançar.
Passo do Obelisco, sigo pelo Aterro em direção à Praia de Botafogo, sem parar para pensar. Praia Vermelha na Urca aparece logo adiante, mas sem a certeza de ser o ponto final.
O cansaço dá sinal verde para seguir em frente. O mar e a mata em um mesmo lugar não é algo a desprezar. A paisagem nos 2,5Km (ida e volta) da pista Claudio Coutinho quer reocupar o seu lugar na minha corrida de todo dia. A energia da pista parece gritar: venha se encontrar.
Minhas passadas parecem que se alongam e me levam em pensamento às trilhas do litoral e das florestas, no Sul da França e Alsace. Enquanto as pernas continuam a correr, o canto dos pássaros, o barulho do mar, a sensação de segurança mais próxima, deixa qualquer um relaxar e poder de fato mergulhar no seu eu e descobrir que é possível se reinventar.
A performance parece concordar e ao passar pela entrada de acesso a trilha do Morro da Urca não deixa dúvidas de que o topo quer alcançar. Uma tentação que foi preciso resistir para não atropelar esse recomeçar.
O total de cerca de 14 km foi além do bom senso e o dia seguinte existe para comprovar. Mas corrida é isso: uma lição a cada largada. É só começar para não querer mais parar.
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Gostei muito das fotos. Esse é também o meu lugar de caminhar, mas não de correr!!!
Obrigada! Então, conhece bem o que vai além do que consigo descrever
Que lindo Vi, recomeçar da uma preguiiiiça… mas é necessário… que a vida sempre nos brinde com recomeços…
Verdade. E muitas vezes reinventar para recomeçar.
Acredito que o ponto de partida é sempre prazeiroso, e que a Virgínia coloca muito bem, a felicidade encontrada depois de começar ou recomeçar, a fórmula sempre foi simples, um “par de sapatos de corrida.”. Excellent!
Obrigada! É isso mesmo. Quem corre sabe. Quem nunca correu é só começar e irá conhecer o prazer de correr.