O olhar distante dá asas à imaginação e vai além do colorido do que realmente possa ter. Em contraponto, o olhar de perto muitas vezes carrega nos tons de cinza, com tendência a exagerar na displicência e chega a ser capaz de proporcionar a perda da oportunidade de conhecer o novo, mesmo que em um velho conhecido lugar ou relação. Em qualquer situação, é preciso sempre atualizar aquele olhar curioso que faz enxergar a beleza do que pode estar ao seu lado ou no caminho de todos os dias que a proximidade faz negligenciar. É preciso resgatar o olhar que resolvi chamar de turista.
É com esse olhar que voltei ao Rio de Janeiro, depois de uma temporada longe da cidade, mas bastou alguns meses para perdê-lo em algum dos percursos. Talvez pelo desanimo que encontrei cruzando o meu caminho a todo momento. Esse estado de espírito contamina. Melhor vitamina não há do que ter contato novamente com o olhar jovem que vem de fora para recuperar o prazer da percepção. E se esse olhar pertence a alguém próximo, como a uma filha, melhor ainda para pegar carona e deixar se guiar.
Assim como o corpo, esse olhar precisa se exercitar para estar sempre pronto a atuar. O olhar de turista é diferente de qualquer outro olhar. O olhar de turista não tem tempo a perder. Mesmo que seja turista em um lugar familiar, quer tudo registrar.
No pouco tempo que minha filha esteve no Rio de Janeiro, fizemos literalmente uma maratona com os pés e com a visão. No olhar de quem chega pronta para utilizar a paleta da saudade com cores vibrantes para amenizar o estrago que a distância é capaz de proporcionar, cada curva ganha uma pincelada diferente nos cerca dos cinco longos quilômetros de subida até a Mesa do Imperador, no Alto da Boa Vista.
Um percurso para corredores, ciclistas e turistas
O percurso, íngreme e bastante frequentado por ciclistas e corredores em treino, fica mais suave diante desse olhar que nenhum detalhe da beleza local deixa escapar. Ao alcançar a Vista Chinesa e em seguida a Mesa do Imperador, parece que acontece uma espécie de feitiço. Cariocas e turistas, não falam a mesma língua, simplesmente emudecem e concordam que estão diante de uma cidade realmente maravilhosa. Ali, o padrão é um só olhar. A vista é mesmo de extasiar.
O melhor de tudo é saber que esse é apenas um dos trajetos em direção à Mesa do Imperador e que ainda tem muito o que explorar. A Floresta da Tijuca oferece partidas de diferentes partes da cidade e inúmeras trilhas com cachoeiras localizadas em pontos estratégicos para aquela energizada. Ainda não percorri por falta de oportunidade e companhia porque nessas trilhas e sempre aconselhável estar acompanhada de quem conhece bem o local.
Na sequência do trajeto, uma parada rápida para matar a saudade do Parque Lage. Um lindo parque, situado no Jardim Botânico, no pé do Cristo Redentor, onde, além de trilhas, pode-se desfrutar de um belo café da manhã ou da tarde em um piquenique ou no restaurante. Pode também coincidir de esbarrar com algum evento por lá. Se a linha de chegada ainda é mais à frente, passa rápido porque a tentação é de ficar.
Ela partiu rápido e com ela o seu olhar. Passei algum tempo procurando para não deixar a miopia, não a fisiológica, mas a outra, a figurativa, apoderar-se do meu olhar. Aquela miopia que quero manter distância. Aquela miopia que tenho visto deixar a indiferença do olhar sobressaltar e apagar as cores da esperança. Aquela que não permite enxergar o que está nas laterais por onde passar. Aquela que não permite mudar o itinerário programado e deixar de se importar se o tempo não quiser parar.
Essa miopia, se não controlada, chega à beira de uma cegueira e pode se mostrar em diferentes olhares, quando menos espera. Pode privar de enxergar até a simplicidade do que é belo por natureza. Para combater esse tipo de olhar, só mesmo aquele outro olhar: o de turísta.
E foi isso que fiz quando corpo e mente decidiram interferir na minha programação de corrida. A meta era percorrer 8Km. Fiz 5km e deixei o olhar curioso me conduzir até a Pedra do Arpoador, um badalado ponto para assistir ao pôr do sol carioca, que há tempos a falta de quebrar a rotina do meu olhar não me dava oportunidade de apreciar. O que encontrei valeu a pena.
Os 8Km se transformaram em 15Km, sendo que 10Km percorri caminhando e deixando o meu olhar por conta de registrar. De vez em quando é muito bom desprogramar e dar liberdade para o verdadeiro olhar correr para ocupar o seu lugar.
Para saber mais:
Percurso Mesa do Imperador -largada no Jardim Botânico
Altitude: 487 m
Distância: +- 6.5Km (início no cruzamento das ruas Jardim Botânico/ Pacheco Leão/ Estrada Dona Castorina.
Inclinação: de 3 até 20 graus.
Dificuldade: moderada.
Acesso: carro liberado
Ônibus: linha 409 (ponto final 750m da portaria do Parque Nacional da Tijuca/ subida).
Parque Lage
Rua Jardim Botânico, 414 – Jardim Botânico
Rio de Janeiro – RJ
Parque: Diariamente, das 8h às 17h.
Jardim Botânico
Rua Jardim Botânico, 1008- Jardim Botânico
Rio de Janeiro – RJ
Horários:
Segundas-feiras: das 12h às 18h
De terça a domingo: das 8h às 18h
Ingresso:
Inteira: R$ 15,00
Meia entrada: R$ 7,50
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Que espetáculo é o Rio de Janeiro! Lindo texto.
Que espetáculo é o Rio de Janeiro! Lindo testo.
Obrigada, Joana! Concordo com você. O Rio de Janeiro consegue conquistar qualquer olhar.
Quanto novo no q ja e conhecido…
Pois é. Tem que estar sempre com o olhar atento.
Apesar de ja ter morado no Rio ainda há Tanto para conhecer…
Sempre! Isso é o Rio de Janeiro.