A ultramaratona da aposentadoria por idade

O percurso da aposentadoria é sempre um trajeto difícil em qualquer nacionalidade. Percurso que a todo momento vai e vem no pensamento, principalmente quando estou correndo e deixando a mente me guiar por onde quer navegar. Esse é um trajeto que me tira o sono só de pensar no tamanho da ladeira abaixo que é difícil conseguir escapar. Haja disposição para disputar com a burocracia que decide se instalar e simplesmente desvalorizar anos de dedicação ao trabalho. É um caminho que a maioria traça ao lado da dignidade e segue sozinha na reta final. Mas voltando ao ponto de partida, é outra aposentadoria que, neste momento, eu quero compartilhar. Falo da aposentadoria de vida que também decide no seu futuro opinar, a partir de uma certa idade, a que está na carteira de identidade.

Esse é um trajeto que me tira o sono só de pensar no tamanho da ladeira abaixo que é difícil conseguir escapar.

Viver é um trajeto que ao nascer já vem com a certeza de ter que percorrer. Dá largada com prazo de vencimento, mesmo desconhecendo a real quilometragem. A qualquer momento pode deparar com o imprevisível e partir sem sequer ter tido tempo de se preparar.

Mas se seguir adiante, vai conhecer a insaciedade da palavra aposentar, que de uma hora para outra, precoce e involuntária, se apresenta sem levar em contar planos e metas a realizar.  Prefere padronizar. É tudo uma questão de olhar, mas não necessariamente do próprio olhar. E essa é a grande questão.

Os anos passam, a expectativa de vida aumenta, a mente evolui, mas o conceito de idade parece não ter pernas para acompanhar. A cada dia me convenço que a idade cronológica foi criada só para atrapalhar. Afinal, muitos passam a maior parte de suas vidas em verdadeiro embate com essa tal idade.

Na adolescência, é comum querer correr para ultrapassá-la. A de quem está na frente sempre parece ideal. Depois dos 30, a situação começa a se inverter e a velocidade pouco a pouco desacelera. Parece ser esse o bom senso. Isso até chegar aos 60. Se verdade ou não, é uma difícil passagem, que pode fazer embarcar na carona da invisibilidade, parar em algum ponto e acreditar sem se fazer notar. Algumas pessoas até acham que já estão na hora extra e que não vale mais a pena sonhar. Retornam no caminho das boas lembranças. Correm para trás no tempo, imaginando que a faixa de largada vai estar no mesmo lugar. Tudo para não se chocar com a idade cronológica que faz sua corrida individual e não leva em conta o que a performance do corpo está querendo mostrar.

Nem o branco passa despercebido para essa idade. A chamada cor da luz, dependendo do local que decide se alojar, ainda tropeça feio no preconceito. O cabelo branco é a prova viva da implacável força da idade.  Tenta entrar na moda pela porta da frente e sai pela dos fundos, sem tempo de se mostrar e mais adeptos conquistar. Será que um dia vem de fato para ficar? É difícil imaginar. Ao longo dos anos, tem dado sinal de resistência em cabeças femininas, mas perde espaço em campo masculino, onde por muito tempo driblou com maestria o cartão vermelho. O branco na cabeça continua sendo sinônimo de mais idade em qualquer idade. Definitivamente, o problema não é o branco, mas a idade.

O problema não é o branco, mas a idade.
O problema não é o branco, mas a idade.

Se parar para pensar, verá que idade é muito mais algo que vem de dentro do que o tempo traz. Tem uns que já nascem idosos, outros nunca envelhecem. Tem alguns que querem logo chegar à maioridade, outros nunca atingem a maturidade. Tem gente que até esconde a idade.

Idade não é para ter e, sim, estar. E que tal a cada dia poder defini-la? Quem sabe ser como um emoji. Na verdade, não nos sentimos com o mesmo humor, vitalidade e também idade todos os dias. Qual o problema de sonhar? Seria maravilhoso acordar sem ter que carregar o peso dessa contagem.

o despertar de cada dia
Seria maravilhoso acordar sem ter que carregar o peso dessa contagem.

Seria fantástico poder variar. Hoje, estar com 15 anos. Amanhã, 25. Depois, 60. Mas, quando quiser, poder retornar aos 20. Se a própria pessoa é capaz de se embaralhar com a idade e precisa do corpo para alertar, que dirá os outros? De fato, fica difícil enxergar.

Então, por que não adotar como padrão um outro tipo de idade? A idade biológica existe e está disposta a ser fiel ao ritmo que decidir imprimir. Vem de dentro para fora. É um espelho da sua capacidade física e mental. É de fato a nossa idade, mais do que representa a da carteira de identidade.

Eu não consigo imaginar o que seria das aposentadorias sem ter como base a idade cronológica para ceifar nossos projetos de vida. Talvez existiria um outro olhar sobre a hora certa de parar. Mas isso só será possível saber se um dia de fato acontecer. Enquanto espero a idade biológica se oficializar, vou praticando.  Hoje, eu estou com 47.  E você? Qual é a sua idade hoje?

Hoje estou com 47 e você?
Enquanto espero a idade biológica se oficializar, vou praticando

Comments

  1. Junia says:

    Que lindo texto Vi! Veio justamente no momento em que vou completar 50, mas definitivamente não me sinto com esta idade. Aposentar? Jamais…

    • Virginia Prado says:

      Obrigada, Junia!Fico sempre muito feliz quando tenho um retorno do que escrevo e compartilho. Aproveite cada momento da sua idade.

  2. Maria Lucia Azeredo Murta da Fonseca says:

    Eu no alto dos meus 64 anos me sinto cada dia com uma udadw.mas nunca com a minha idade cronológica. Aliás, me sinto muito mais resolvida comigo mesma, do que qundo mais nova! Rssss bj

    • Virginia Prado says:

      Obrigada, Jussara! Fico muito feliz com cada retorno de quem acompanha os meus percursos de vida e de corrida.

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