Em busca de uma percepção do olhar estrangeiro e do vibrar brasileiro longe de seu país, eu sem perceber larguei para a maratona da Copa. O que até agora encontrei me pareceu que o fervor dos jogos na Rússia já partiu, mas ainda não chegou para contagiar quem assiste à distância. Se fosse uma corrida, eu diria que a Copa 2018 ainda trota dentro das casas para depois ganhar as ruas, pelo menos em Strasbourg. Os brasileiros que moram ou visitam a cidade parecem aguardar esse sinal para mostrar a cara, ou melhor, pincelar de verde e amarelo esse pedaço do Leste da França.
Na verdade, os países estão apenas começando a grande corrida pelo título. É hora de ter estratégia, observar os concorrentes e não perder o ritmo ou muito menos tropeçar e cair. Esse início não define o vencedor, mas se ficar para trás, será difícil recuperar a liderança. A exigente torcida do país do futebol sabe e por isso cobra, reclama, quer ver o time crescer sem perda de tempo. Quer torcer e em algo acreditar. Quer deixar a emoção extravasar. Quer ver o Brasil dar a volta por cima pelo menos no placar.
Mas, muitas vezes, esse coral de cobranças pesa e as pernas não conseguem sair do mesmo lugar. Será isso, Neymar? Neste compasso de espera, sem saber para que lado o time vai correr, prefiro incentivar ou no máximo me calar. Eu não sou jogadora e muito menos expert em futebol. Eu sou apenas uma torcedora, que conhece o peso de uma competição, e sei que um comentário pode ajudar a chegar ou literalmente derrubar. Se muitos, é melhor nem sequer pensar o estrago que pode causar. Competir é difícil. E mais ainda, quando carrega a responsabilidade de representar uma nação. É impossível desprezar o poder de uma mente em ação, seja para o bem ou para o mal. O preparo pode sempre ser traído, mesmo o de grandes profissionais. Se controlar uma só mente já é difícil, que dirá em um só tempo acertar o compasso de onze. Ganham para isso. É verdade. E também estão acostumados a estar sob pressão. Mas, o emocional é imprevisível. Mesmo sem pedir permissão, pode a qualquer momento causar uma grande confusão. Essa é uma grande questão em qualquer competição e, justamente, por isso nos proporciona tanta emoção. Haja coração! Então, prefiro deixar a opinião para quem é da área e apenas torcer para ver o time crescer.
Na estreia do Brasil nos jogos, optei por sair de Illkirch-Graffenstaden em direção à Strasbourg sem pesquisar algum local específico. Pelos grupos do Facebook, eu sabia que na cidade haviam muitos brasileiros. Mas eu queria encontrar a Copa nas ruas. Eu queria cruzar com a emoção, anônima no meio da multidão, e poder observar o brasileiro festejar em terras francesas com herança alemã. Era um domingo e imaginei ser tarefa fácil na Petite France. Engano meu. Vaguei por Strasbourg, vasculhei bares, restaurantes e praças à procura do clima Copa, de algum verde e amarelo ou muito azul, vermelho e branco. Encontrei bandeiras e até souvenirs alusivos à Copa, mas torcedor, eu não vi. Só se estavam disfarçados de turistas. Esses encontrei por todos os lugares que passei e, mais interessados em registrar e aproveitar a beleza da cidade do que ficar diante de uma TV. De fato, Strasbourg parece ter sido feita para conquistar o turista no primeiro olhar.
Lembrei-me da Copa de 2014 que passei na Alemanha. Na cidade que eu estava, os jogos aconteciam e a rotina seguia seu fluxo, mesmo a equipe alemã se destacando e avançando para a conquista do título. Uma experiência interessante para quem só tinha como base o Brasil, que faz do evento o mundo encantado do conto de fadas, aciona o pause para os problemas, recarrega na emoção e hipnotiza o olhar para uma só direção. No meio de tanta reflexão e constatação, aumentei o passo para chegar em casa e assistir ao final da partida na companhia da família francesa. Mãe e filha pareciam adivinhar a grande frustação da minha caminhada em vão. Improvisaram uma torcida, mas o placar Brasil X Suíça estacionou no empate de 1X 1 para ficar até o jogo acabar.
Brasil em campo novamente. Em casa guardei a decepção e animada coloquei o pé no Canal du Rhône au Rhin. Strasbourg me esperava. Enquanto a bola no campo rolava, eu continuava na minha caçada. Pistas pela cidade, eu encontrava. O Brasil estava até no quadro de sugestão de cardápio. Televisão também não foi o problema. Tinha telão e telinha para uns ou nenhum telespectador torcedor. O tempo correu mais rápido do que os jogadores em campo e como quem não quer chegar, mas chegando, entrei no primeiro pub que avistei para assistir os últimos momentos de Brasil X Costa Rica. Na falta de uma cor de identificação de torcida, era preciso dialogar para saber com qual país iria dividir o olhar na TV. Do meu lado, um francês. Puxei conversa, tentando saber para qual dos dois times em campo torcia. Brasil, rapidamente respondeu. Curiosa, eu quis saber por quê. Sem titubear, ele respondeu apreciar a técnica e o bom futebol brasileiro, que ao nosso severo olhar ainda precisa muito fazer para elogios ganhar.
No bate-papo, entrecortado por pequenos sustos diante de oportunidades brasileiras perdidas, escuto o francês incrédulo várias vezes exclamar: ce n’est pas possible! Mas o apito final ainda não havia sido dado e o primeiro gol aconteceu. Foi no acréscimo do segundo tempo que o jogo realmente começou. O francês não acreditou e mais uma vez disparou: ce n’est pas possible! E veio o segundo gol. Ele calou e me olhou. Foi a minha vez de dizer: C’est Brésil! Ele riu. A minha chegada no restaurante no momento exato da virada no jogo, fez-me sentir um pé quente. Como única representante brasileira no local, recebi merecidos cumprimentos pela vitória sofrida. Sai do restaurante como um pavão e não acreditei, quando quase trombei com o primeiro representante da torcida brasileira em Strasbourg, identificável. Eu não resisti e pedi para poder registrar. Depois de tanta procura, não poderia deixar passar.
É cedo para comemorar, mas não há como negar: os últimos minutos desse segundo jogo brasileiro fez o coração acelerar, o sabor da vitória querer ficar e quem sabe poder algo mais esperar. Só o tempo dirá. Até lá!
Lindo e poético o texto. Amei!!
Obrigada, Junia! Esse retorno é um grande incentivo para continuar dividindo meu olhar e experiência na França.
sem duvida uma copa diferente onde vc colheu todos os louros. praticamente um neymar solitario e vencedor.
Obrigada! Acredito que a escolha do olhar ajuda a lidar com expectativas e desencantos.
Adorei o texto! Lindo!
Obrigada, Gisele!
É!!! Até neste jogo a gente tinha esperança!! Rssss bj
Pois é…acreditamos. Aqui, quando perguntava quem era favorito, o Brasil sempre era citado.