Percurso do Mont Sainte-Odile: parada obrigatória para turistas e peregrinos na Alsácia

Mont Sainte-Odile

A Alsácia parece a todo momento querer me mostrar a boa escolha que fiz ao decidir pela região, quando chegou a hora de mais um pedacinho da França conhecer, novos percursos descobrir e diferentes histórias contar. A minha estreia oficial de caminhadas parece de encomenda para aqui querer por muito tempo permanecer. A convite de amigos franceses, parti para fazer um caminho até o Mont Sainte-Odile. Mais um percurso que conciliou a atividade física com uma viagem na história e cultura da França.

Sainte Odile  padroeira da Alsácia e da boa visão

Sainte Odile que dá nome ao monte é padroeira da Alsácia e da boa visão. Filha do duque Eticho-Adalric, nasceu condenada à morte pelo pai, por ser do sexo feminino e também cega. Protegida pela mãe, Odile foi confiada a uma enfermeira e ao receber o batismo recuperou a visão. A fúria sem limite do duque ainda fez o irmão de Odile uma vítima fatal ao tentar promover a aproximação de pai e filha.  Mais tarde, arrependido de seus atos, Eticho doou o seu castelo a Odile para fundação do monastério de Hohenbourg. Depois de inúmeros incêndios e recuperação, atualmente é um local turístico, mas também de peregrinação na Alsacia. Possui uma estrutura de hospedagem, restaurantes e ambientes para realização de congressos e exposições.

Mont Sainte-Odile fica cerca de 40km de Strasbourg. Mas para chegar lá no topo do monte, a 763 metros de altitude, tivemos que subir bastante floresta adentro. Em diferentes pontos do trajeto, ruínas, fontes, marcas do passado do local. Existe uma variedade de opções de trilhas, com diferentes tamanhos e dificuldades que fica difícil escolher. Difícil também foi segurar a vontade de correr. Para quem não é adepto de se aventurar na mata, tem a opção da estrada, que pode ser de bicicleta, carro ou até mesmo ônibus. O monte tem em seu entorno pequenas cidades, com características próprias, uma opção de visita para quem desejar ficar mais dias.

Nosso ponto de partida foi em frente a uma escola da pequena cidade de Saint Nabor que é rodeada pela floresta e vinhedos aos pés do Mont Sainte-Odile. De início, uma subida, sem refresco, que começou no asfalto e prosseguiu nas trilhas, ora mais inclinada, ora menos e com alguns obstáculos para testar o nosso desempenho. A cada quilômetro avançado, a vontade era parar para apreciar e descobrir o melhor angulo que as fotos pudessem expressar tudo que meus olhos estavam a admirar. Impossível! O grupo seguia em frente sem notar que eu parei para fotografar. No começo foi difícil encontrar o ritmo para ao mesmo tempo tentar registrar e conseguir acompanhar. Sem programar, fui fazendo da caminhada um improviso de fartlek (treino que você decide na hora quando vai correr mais rápido ou mais devagar e em qual tipo de terreno). Na verdade, o trajeto é tão lindo, que a subida acaba sem perceber ou fatigar. A temperatura em perfeita harmonia com a nossa caminhada, estava na medida certa, mas creio que inclusive em dias de verão e sol forte seja um percurso fresco com bastante sombra.

Além dos amigos, essa aventura contou também com a presença de Nola, Lili e Gabi três lindos cachorrinhos que contribuíram para alegrar o percurso. A disposição da trinca era de fazer inveja. Até mesmo Gabi, o mais velho e parrudo dos caninos, surpreendia com sua corridinha, mas até parte do caminho. Depois começamos a trocar a posição de lanterna e, em alguns trechos, ele de fato estacionava e só pegando carona em um colo para recuperar a energia. Ao contrário de Gabi, Nola uma jovem Jack Russel, tinha energia de sobra e espírito de caçador. A espevitada cachorrinha fazia o mesmo percurso três ou quatro vezes e não queria perder tempo nem para beber água nas paradas estratégicas ao longo do caminho. Nosso coração certamente ela testou e alguns sustos nos fez passar, quando na euforia da liberdade na natureza corria em direção a precipícios ou da estrada, decidida a ignorar o comando da sua dona. Nola certamente colaborou com a adrenalina do passeio.

Na chegada ao topo do Mont Sainte-Odile já dá para perceber o que nos aguarda. Basta abrir bem os olhos para enxergar o que a história e a arte tem para contar e a linda paisagem que do alto do terraço pode admirar. A via-crúcis de Léon Elchinger feita em cerâmica incrustada nas paredes rochosas, contornam o monastério. No terraço, pequenas capelas com o teto todo trabalhado em mosaico. Mas é também a possibilidade de abrir os olhos para dentro e enxergar o que deixou perdido no tempo ou o tempo o fez perder e agora procura resgatar. É local para descansar, amar, meditar, se encontrar ou simplesmente apreciar e deixar o tempo passar pelo menos o necessário para o caminho de volta retomar.

Para retornar ao ponto de partida, pegamos uma trilha pelo outro lado do monte. Com mais descidas do que subidas, era preciso ficar atenta e não deixar passar despercebido o que o caminho ainda tinha para mostrar. Vista panorâmica, ruínas de um castelo no meio da floresta, o enigmático Mur païen, um muro constituído de grandes blocos de pedra, cuja função exata é ainda incerta, embora estudos recentes tendem a concluir ter sido construído no século VII e, portanto com função vinculada à residência do duque de Eticho.

Todas as trilhas são bem sinalizadas durante o percurso, com placas e as tradicionais marcas pintadas em árvores e pedras, inclusive com previsão de tempo para chegar ao destino. Mas como as trilhas se cruzam e o GPS em alguns pontos pode falhar, é sempre bom contar com um plano B, ou seja, o velho mapa impresso, se não estiver em companhia de alguém familiarizado com o local.

Completamos quase 16 Km, em cerca de 5 horas, contando com paradas e visita ao Mont Sainte-Odile. Aventurar a explorar novos lugares e sempre aprender é a riqueza que posso adquirir nos caminhos da vida que percorrer. Pelo que já pude perceber falta de opção eu não vou ter. Resta saber qual o tempo que vou ter.  Esse foi o primeiro de muitos percursos que desejo conhecer na Alsácia.

Aberta a temporada alsaciana!

 

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Comments

    • Virginia Prado says:

      Sim, tenho acertado nos meus percursos pela França. A Alsácia é muito bela!Vale a pena incluir no roteiro de viagens.

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