Eu não pensava que um novo lugar seria capaz de tão depressa me encantar e uma nova paixão começar a delinear. Aos poucos, o rio, ou melhor os rios, que não são o Rio de Janeiro, já começam a me conquistar. Eu não tenho mais a orla do mar, mas tenho as margens do L’Ill, do canal do Ródano ao Reno (canal du Rhône au Rhin) e até do próprio Reno. Além de apresentar uma variedade de opções de percursos para quem quiser correr, caminhar ou pedalar, estão sempre a mostrar uma beleza que eu não poderia imaginar e que até me faz viajar. Em pensamentos, percorro os meus próprios caminhos, acompanhando o curso dos rios. Constato que, assim como nos nossos trajetos pessoais, ora se bifurcam, se cruzam ou ainda se tornam um só. Alternam trechos em águas revoltas e outros em quase paradas. Por caminhos longos ou curtos, sempre estão a buscar o destino final alcançar.
Direto do Sul para o Leste, aterrizei em Strasbourg, não de avião, mas de ônibus e depois de quase 14 horas de viagem com direito a conexão. Isso, sem levar em conta a pré-viagem. Arruma e desarruma mala milhões de vezes para transformar duas em uma. E foi carregando uma bagagem mediana, acima do peso suportável mesmo praticando o desapego, que finalmente cheguei ao meu destino: Illkirch-Graffenstaden. Pelo nome pode até parecer que minha próxima temporada será na Alemanha. Quase isso, Illkirch é uma pequena cidade na Alsace, colada em Strasbourg, portanto, divisa com a Alemanha. Como em toda região, a presença alemã está nas escolas, nos nomes de ruas, no comércio local, nas construções e também no seio de muitas famílias.
O pesadelo inicial de ter que descer ou subir escadas com mala em alguma estação de metrô foi desnecessário. Aqui, não existe metrô e, sim, o tram, como o VLT carioca só que com um alcance muito maior, ligando cidades no entorno de Strasbourg e inclusive Kehl, esta última de fato alemã. Particularmente, quando não conheço o local, prefiro os transportes de superfície, para me localizar. Eliminando o primeiro receio da lista, em 15 minutos estava em Illkirch e já no primeiro contato com um morador, a primeira constatação: não existe sotaque ou língua que impeçam o desejo de se comunicar. Tudo bem que foi apenas perguntar como chegar a algum lugar, uma frase jargão da minha temporada na França. Nada como pagar para ver e poder saber. A primeira impressão é sempre importante e chegar na primavera não tem como errar, principalmente nas cidades francesas que tem o certificado de Ville Fleurie. O colorido das flores está nas ruas, nos jardins das casas, nas margens dos rios, no alto e no baixo. Basta olhar que vai encontrar uma flor em qualquer lugar.
Na verdade, muitas vezes deixamos de realizar ou promover mudanças por conta da ansiedade que é a grande vilã quando decide te apoderar. Era a primeira vez que eu iria experimentar ficar mais tempo convivendo com pessoas de uma outra cultura e que falam uma outra língua. Até hoje, minha experiência, nesse sentido, havia sido por pouco tempo e mesmo assim acompanhada de uma filha. Eu sei que para os mais jovens é algo corriqueiro, mas sou da geração que intercâmbio era para poucos, pelo menos no Brasil. Porém a sobrevida desse sentimento teve um trajeto bem curto e insuficiente para me amedrontar. Bastou tocar a campainha de onde seria o meu lar nos próximos meses e me deparar com uma grande família a se confraternizar. Era Lundi des Pâques. Mais uma vez, o destino não me decepcionou. A escolha da moradia, feita de forma aleatória em um site, conduziu-me para um convívio com uma gentil família francesa. Mais ainda, além de acertar na moradia, acertei também no lugar. Gosto de explorar o que muitas vezes o turista não tem tempo ou oportunidade de conhecer. Gosto de frequentar o local onde o morador vai passear. Certamente muitos já visitaram Strasbourg, mas acredito que nem tantos tiveram a oportunidade de conhecer Illkirch, que fica cerca de 7km.
E assim dei partida a minha nova fase de aventuras, agora, na Alsace. Depois do primeiro fim de semana dedicado a matar a saudade de uma das minhas filhas e a me recuperar do desgaste que uma mudança é capaz de proporcionar, meus olhos agora começam a enxergar o que o lugar está a me ofertar.
RC Strasbourg X Saint-Etienne
O meu primeiro percurso esportivo de fim de semana não foi correndo. A convite da família francesa, me aventurei em outra modalidade esportiva, mas como espectadora. Fui assistir uma partida de futebol. Se a intenção fosse cobrir o factual, estaria narrando com bastante atraso. Mas para descrever emoção não existe data com expiração. Não era o Maracanã, nem tão pouco o Flamengo. Também não era Brasil, mas futebol não tem nacionalidade, quando a palavra de ordem é vibrar. O espetáculo contagia em qualquer lugar e você passa a torcer sem sequer perceber. Do casal torcedor de times opostos, ele, Saint-Etienne, e ela, Racing Club Strasbourg, recebi de presente um cachecol imparcial, que me deixou à vontade para extravasar a emoção sem me preocupar com que partido tomar . Mas o estádio apesar de se colorir de azul e branco não foi suficiente para o time de Strasbourg vencer. Um a zero para o verde e branco Saint-Etienne. Era o previsível, embora a torcida nunca queira acreditar e tudo fazer para o inesperado acontecer. Mas muita bola ainda vai rolar e quem sabe o Strasbourg ainda vai entrar no ritmo e chegar lá no embalo da torcida incansável que até o último minuto do segundo tempo não parava de incentivar: Allez, allez, allez!
Enquanto o time decide, eu não quero perder tempo. Já peguei carona no grito da torcida e dei largada para a nova fase da minha aventura, tendo Illkirch como ponto de partida.
Allons-y!
E então, gostaram do post? Quero comentários. Allez! Allez!
Vi, que bom que chegou bem por aí! Já passei uma temporada por esta região. Fiquei em Colmar, que é uma lindeza, conhecida como Petit Venice!! Adorei! Curta muito esta nova fase e continue nos presenteando com seus textos bárbaros. Beijo
Obrigada! Eu é que agradeço o privilégio de sempre contar com sua leitura. A região é realmente muito linda. Já me encantou no primeiro olhar. Colmar está na minha lista de percursos que quero conhecer. Bj
que bom vi…deu tudo certo e ainda perto da luisa. uau!
Sim. Estou em uma região maravilhosa, com várias opções de percursos para conhecer e mais perto da Luiza.
Saudades! ❤️
Saudade também e aguardando vocês para conhecer essa linda região.
Nossa, que bacana. Quer dizer q vc ficou hospedada com uma família q se oferece para esse tipo de intercâmbio. Muito mais enrriquecedor. E que lugar lindo, deve ser… Quantas experiências. Que maravilha! Viajo junto rsrsrs Bjs!
Sim! Estou hospedada na casa de uma grande e gentil família francesa. A região é realmente muito linda e deve estar incluída na lista de lugares que não pode deixar de conhecer. Você não imagina como fico feliz de ter a sua companhia nessa minha aventura. Bjs
Salut ! Bonjour ! Adorei o texto ! Tbm amo caminhar… por enquanto, me “aventuro ” pela Bretanha, onde moro, me fascino, toda vez que, encontro uma trilha, um lugar escondido (e nessa época, todo florido) ,redescobrindo novos caminhos.. É bom demais…
Obrigada, Edna! Quem corre ou caminha sabe: é a oportunidade de contato direto com a natureza e uma viagem interior. O seu comentário é um incentivo para continuar me aventurando nos percursos e na escrita. Espero continuar contando com sua leitura e companhia. Tenho muita vontade de conhecer a Bretanha.
Olá, adorei as flores e a paisagem!
Essa época na Europa e maravilhosa.
Quem sabe vou te visitar uma vez. Sou amiga da Claudinha do M. da Saúde onde aplico reiki uma vez por semana.
Parabéns pela coragem de enfrentar o desconhecido.
Salut
Verena
Obrigada, Verena! Aqui todas as estações são bem definidas e com uma particularidade que encanta os olhos, mas a primavera é realmente linda e as cidades ganham um colorido especial. Venha mesmo. Vai adorar. À bientôt
Estou acompanhando com entusiasmo sua experiência, por meio de seus textos, sinto-me integrada a esse universo. Muito bom, poder apreciar as belas imagens dessas cidades, que pretendo conhecer algum dia, pois também sua apaixonada por esse país. sobretudo pelas pequenas cidades. Então, fico na expectativa por novas publicações, que sempre vem acompanhadas pelo aconchego de seus textos. Parabéns!!!
Obrigada, Jussara! Que bom saber que tem acompanhado minha aventura. Esse retorno é um grande incentivo para continuar dividindo minha caminhada pela França. Tenho certeza que vai adorar conhecer cada cidade e por onde passar vai lembrar dos meus percursos.
Vi querida,
Que ótimo !!!!! Amei as fotos!!!! Lugar lindo!!!! E ainda mais, perto da Luisa !!!!!
Sucesso para você !!!! Tudo de bom!!!!
Beijos…. Saudade….
Que bom ter gostado!Vale muito a pena conhecer. A região é muito linda e acompanhando o curso dos rios é possível descobrir percursos inesquecíveis.
Lindas fotos!!
Obrigada! O lugar é realmente lindo!
Recebi via Ana Teresa e lembrei muuto daquela outra “aventura ” q foi trabalharmos em São Gonçalo. Esquece Virgininha : seu ano sabático esta maravilha!!! Provavelmente poderemos nos encontrar : farei a rota dos vinhos da Alsacia com um grupo . E nossa base será Strasbourg . De 19/06 a 28/06. Teremos todas as noites para um jantarzinho. Ficarei no Best Western Hotel de France – 20, rue du Jeu des Infants. Bjs Regininha ( do Planejamento com o André Vaz. A cearense)
Se tiver uma dica do tempo ai nesta epoca seria otimo !!!! Nas últimas viagens errei nas roupas. Sera friozinho tipo Itaipava ? Ou já teremos calor?
Claro que me lembro! Essa aventura e os aventureiros de Ana Tereza são inesquecíveis…Que maravilha, Regininha! Ainda não conheço a rota, mas sei que é linda. A Alsácia é apaixonante. Ana vem no grupo? Fico com receio de palpitar sobre o tempo porque “São Pedro” muitas vezes resolve surpreender e ainda não passei um verão na região, mas pelo que me disseram é bem quente. A Meteo está prevendo para o período mínima de 12º (provavelmente de noite e perfeito para algumas taças de vinho) e máxima de 28º. Se for como no Sul da França, bem quente. Acho que pode pensar em uma mala verão, mas não esquecer do agasalho três em um para frio moderado, chuva e vento.