Um período na França perto e longe do mar

Port Sanary

Enquanto Sanary-sur-Mer se prepara para a chegada do verão, eu me preparo para embarcar em mais uma aventura. No fluxo contrário dos turistas, que já começam a buscar um lugar ao sol no sul da França, eu parto para conhecer uma região longe do mar. Em princípio, fico apreensiva. Apesar de mineira, passei maior parte da minha vida no Rio de Janeiro. Mesmo não sendo frequentadora assídua de uma praia, gosto da sensação de saber que estou perto do mar e que esse está ali a me esperar para quando eu quiser mergulhar. Gosto de correr por sua orla, de desfrutar o contato com a natureza e também de receber sua energia. Quem gosta de vinho rosé e quer conhecer a região, melhor época não tem. Sanary se colore na primavera. As trilhas do litoral normalmente estão com o acesso liberado, o clima é ameno e São Pedro costuma ser camarada para fazer acontecer os passeios turísticos no mar.

Festival Just'Rosé Sanary
Festival Just’Rosé Sanary

Parto na contagem regressiva para o Just’Rosé acontecer. Entre 5 e 8 de maio, a cidade se veste de rosa, durante um fim de semana prolongado, para reunir experts ou simplesmente amantes do vinho rosé e de uma bela festa. O evento, que começou despretensiosamente apenas para uma degustação em torno da prestigiada produção de vinho local, ganhou fama e o mundo. Os quatro dias de festival atraem turistas de diferentes lugares e tem fila para vaga de expositores, atualmente em torno de setenta. Tem participante que gosta tanto que assim que termina já reserva hospedagem para o ano seguinte. Este ano não vou estar lá para conferir o sucesso, mas fica a dica. O Just’Rosé é para fazer negócios, para quem aprecia um bom vinho rosé, para conhecer pessoas e também uma oportunidade de ter uma mostra do que a cidade oferece de atrações turísticas.

Sanary-sur-mer na minha vida

Sanary-sur-Mer, essa pequena cidade no sul da França, há um ano entrou na minha vida por acaso em uma busca de moradia na internet, mas me conquistou por sua beleza natural, clima e uma variedade de percursos para correr. O verde e mar em total sintonia me faziam lembrar do Rio de Janeiro. Amenizaram a saudade de casa e me proporcionaram grandes descobertas, internas e externas. Enfrentei meus medos, caminhando pelas trilhas do litoral. Gostei tanto da adrenalina que já sinto falta por antecipação.  A cidade, e seu entorno, é ideal para quem deseja fazer uma viagem de turismo, mas não deixar de dar uma corrida, caminhada ou pedalada. Sua localização também permite bate-volta pela Região da Provence Alpes Côte D’Azur e conhecer cidades como Marseille, Toulon, Cassis, Saint-Tropez, Cannes ou Nice e voltar para a tranquilidade de Sanary.

Sanary no Inverno
Sanary no Inverno
Vinhedo em Ollioules
Vinhedo em Ollioules
Plage de Portissol
Plage de Portissol
Bandol ao fundo vista de Sanary
Bandol ao fundo vista de Sanary

Foi em Sanary que também aprendi a gostar de simplesmente caminhar. Eu sempre adorei correr e, talvez por esse motivo ou por necessitar de mais tempo, caminhar não fazia parte da minha rotina. Nesse ano inteiro, conto nos dedos as vezes que peguei algum transporte público e sempre para me deslocar para lugares mais distantes. Gostando, o dia a dia dentro da cidade e na redondeza pode perfeitamente ser feito a pé. Meu tênis não me deixa mentir. Deu tanta hora extra que não teve condições de seguir viagem. Ficou em Sanary. Simbolicamente, uma parte de mim que lá deixei.

tênis aposentado de corredora
tênis aposentado de corredora

Acolhida gentil dos habitantes de Sanary

Mas foi principalmente a gentil acolhida dos habitantes de Sanary que me fez ir e voltar uma vez e agora me faz partir deixando uma parte de mim ficar. Quando se mora fora, principalmente do seu país de origem, se sentir parte do cotidiano de uma cidade é uma outra forma de amenizar a saudade. O bom dia do vizinho, do corredor que cruza no caminho ou do comerciante que sente sua falta quando não aparece como de costume faz uma incrível diferença.

Professora e amigos do En Savoir Plus
Professora e amigos do En Savoir Plus

Foi por meio da primeira moradia que eu conheci meus primeiros amigos. Uma proprietária que foi além da hospitalidade esperada quando se aluga um imóvel.  Ela me apresentou Ollioules, uma encantadora cidade vizinha, e por suas mãos fui levada para a En Savoir Plus, uma associação que disponibiliza cursos de francês, ministrados por professores voluntários, com objetivo de facilitar a inserção de nativos e imigrantes na sociedade. Nessa associação, dei as minhas primeiras passadas em direção à fluência. Mais do que isso, ganhei amigos franceses e de diferentes partes do mundo e idade.  Aprendi costumes e conheci lugares. Eles abriram suas casas e estiveram presentes em momentos de dificuldades e de comemorações.  Por trás da pequena sala de aula, estão vários corações generosos que doam algumas horas do dia para ensinar.  Vibram com nossos avanços na língua e até pesquisam para atender nossas dúvidas.  Nas cidades da região Provence Alpes Côte D’Azur conheci o francês atencioso, educado e sempre pronto a tentar decifrar o que o meu francês ainda não é capaz de por si só expressar.

Apesar de todas as dificuldades, a cada dia mais me encanto com as particularidades da língua que persiste em manter as expressões de polidez em um simples diálogo habitual.  É de fato na forma de tratamento que se distingue o grau de distância do relacionamento. Ainda engatinhando na pronúncia do Sul, estou partindo para conhecer uma outra região da França.  Uma nova fase de aventura não só de novos percursos e de possibilidades de novos amigos, mas também um grande desafio: conhecer um outro sotaque francês.  A expectativa é sempre uma adrenalina, mas também combustível para todos os dias querer um pouco mais aprender, sem medo de recomeçar.

Grupo Godasse Bagnado de Ollioules no circuito La Flûte
Grupo Godasse Bagnado de Ollioules no circuito La Flûte

 

Para onde vou? No próximo post eu conto. Gostaram deste post? Deixem seus comentários.

 

Comments

  1. Rosanne Vasconcellos Nogueira de Oliveira says:

    Que experiência maravilhosa e que coragem a sua,muito bom saber de como foi sua vida aí,fico imaginando as coisas lindas que você viu e sentiu,e ainda vai voltar com aprendizado desta língua que amo,pensei que já ia voltar para o Brasil.
    Estou curiosa onde será a próxima aventura!Boa sorte!Saudades!Bjs

    • Virginia Prado says:

      É verdade! Tem sido uma experiência maravilhosa viver o cotidiano de um outro país. Fico muito feliz que você esteja gostando de acompanhar minha aventura. No próximo post, uma nova etapa! Saudade. Bjs

  2. Marisa says:

    Fico feliz de saber de suas andanças
    Gostoso ler seus posts
    Beijos e boa sorte neste novo movimento pelas terras francesas
    Bj

    • Virginia Prado says:

      Obrigada, Marisa! Eu fico muito feliz de contar com sua leitura e companhia nessas minhas andanças pelas terras francesas.

  3. Eliane Greco says:

    Adorei seu post. Conheço razoavelmente a França, gosto demais, apesar de ser descendente de italianos e amar a Itália, meu coração bate um pouco mais forte pela França. Entendo um pouco mas não falo mas acho que é uma boa razão para aprender a língua. Sempre fui bem tratada nas cidades que fui, de modo geral os franceses gostam dos brasileiros. Achei seu post por um comentário sobre a cidade de Sanary em um livro.

    • Virginia Prado says:

      Super obrigada, Eliane. Esse retorno é sempre um incentivo para continuar escrevendo sobre os percursos de corridas, caminhadas e vida. Eu também tenho um coração que bate forte pela França e esse cantinho no Sul me conquistou.

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