O novo percurso conhecido na corrida do recomeçar

Começar o primeiro dia de 2018 com uma corrida, não importa que no ritmo “escargot”, dá a sensação de recarregar a energia e iniciar o ano com total disposição. Quem corre pode entender. Quem não, jamais vai imaginar o benefício que essa corrida é capaz de proporcionar. O Ano Novo chegou e é hora de tudo recomeçar porque o novo pode estar no percurso já conhecido e depende do olhar que você quiser dar.

Pode até ser superstição, mas serve de motivação, ainda mais depois de ter entrado na fase do “amanhã, eu vou”. Frio, chuva, vento, falta de tempo, joelho doendo ou ainda saudade, enfim, desculpa não faltou, muitas com total sentido, e a preguiça se instalou. O tempo passou, mas o primeiro dia do ano chegou e da cama me empurrou.

Embora não tão cedo como tenho o hábito e gosto de correr, o inverno tem a vantagem de o sol não esquentar a ponto de mais tarde incomodar. Mudar hábitos já incorporados é muito difícil, no início, mas vale a pena tentar. Às vezes, é o que vai permitir descobrir que radicalizar faz deixar de aproveitar. Foi depois do meio-dia que dei largada no novo ano em um percurso já conhecido e que muitas vezes depois repeti. Parti do Port de Sanary em direção a Île du Gaou, em Six Fours Les Plages. Sem programar, repetia o primeiro percurso que fiz quando, em janeiro 2017, cheguei em Sanary sur Mer . No percurso conhecido, dei largada para um novo ano que não mais me aguardava para prosseguir.

Recordar para recomeçar nos primeiros quilômetros. Era preciso o pensamento viajar até o corpo esquentar, a mente relaxar, a passada adiantar para poder enxergar e pensar. O percurso conhecido tem a vantagem de poder a sua performance avaliar e também de novo não errar. Quando o caminho se bifurcar, você, certamente, não terá dúvida para qual lado optar. A paisagem pode se modificar, se por um outro ângulo optar para admirar. E, se um dia algum obstáculo tenha feito você recuar, o aprendizado vai te ajudar, dessa vez, a saber como lidar. O percurso conhecido, que já pensava nada mais ter para explorar, diante dos seus olhos, pode se modificar e em novo se transformar. O resultado vai depender do tom que você quiser dar, da motivação que no caminho encontrar e da disponibilidade que quiser dedicar para o máximo poder tirar em cada quilômetro que avançar.

O céu azul e o sol de inverno deram as caras para me conquistar e sonhar com tudo que no novo ano desejo conquistar. Mas, não faltou o vento contra para me lembrar, que a cada novo dia é sempre um recomeçar e não é porque é novo que tudo perfeito vai estar. A mochila que nas costas carregava, para guardar o casaco, assim que o sangue circulasse o suficiente para o frio espantar, em um paraquedas pareceu se transformar e, com o vento forte, o meu esforço querer anular. Tudo nessa corrida eu quis assimilar e algum proveito tirar para não criar expectativas, além do que a minha passada pode alcançar, além do que não depende só do meu desejo de tentar ao final chegar.

Os quase 14km de ida e volta, eu completei. Aproveitei cada momento e experiência que o percurso conhecido de novo me ofertou. Percebi que ainda muito tem para me mostrar. Venci obstáculos e imprevistos. As subidas e retas, o vento e o frio ou o sol e calor, a velocidade alternada, o asfalto, a areia ou a terra batida vão estar sempre lá, para um toque novo dar e, principalmente, para me fortalecer e não me deixar querer desistir, cada vez que um contratempo nos próximos 364 dias do percurso surgir.

Só quem decide todo o trajeto completar, e no final chegar, pode com propriedade dizer que aquele trajeto não vale mais a pena insistir em percorrer ou, ao contrário, se surpreender e colher tudo de bom que o percurso pode oferecer. Quem corre sabe o tamanho desse prazer.

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