Festas de fim de ano, só ou acompanhada, em Sanary há lugar

Bonequinho de neve

Para alguns que vivem longe de sua terra natal e dos familiares, as festas de fim de ano são o momento de voltarem às origens, matarem a saudade e aproveitarem as oportunidades de confraternização. Para outros, impossibilitados de partir, é o momento que o coração se divide e a nostalgia invade o pensamento. Quando optei por um período sabático na França, me imaginei fazendo parte do primeiro grupo, inclusive, comprei passagem para a data, mas alguns imprevistos e mudanças de percurso aconteceram no meio do caminho e, quando me dei conta, já estava na contagem regressiva para viver essa experiência de um Natal bem distante do que havia planejado. Mas, Sanary-sur-Mer, uma pequena cidade no sul da França, me surpreendeu e acolheu a minha solitude na grande confraternização.

Na profissão de jornalista, diversas vezes já havia passado o Natal de plantão. Em parte, já conhecia a sensação, mas a distância geográfica parece ampliar os sentimentos e aumentar o desejo de estar com os familiares. Na verdade, apesar de toda a atmosfera que envolve as pessoas no Natal, o evento, na minha vida adulta, sempre me proporcionou sentimentos contraditórios e me vejo oscilando entre a alegria e tristeza, sem uma causa específica. Uma espécie de melancolia atípica, imprevista e inoportuna para momentos de festejo. Talvez, por instigar a saudade de pessoas que não participam mais da confraternização. Talvez, por hoje perceber que o corre corre às compras vai aos poucos ocupando o espaço e o tempo da oportunidade de conviver. Talvez, por ser um evento em que o contraste entre o rico e o pobre, entre o que tem ou não casa ou ainda, entre o que tem ou não família ganhem maior visibilidade. Talvez, por me fazer refletir e constatar o pouco que até hoje consegui contribuir para o que muito me incomoda um dia poder deixar de existir.

Só, em uma cidade e cultura totalmente diferente do que estava acostumada, fiz da saudade companheira e juntas decidimos dar um outro olhar ao momento. Sanary é uma cidade turística com seu auge de visitantes na temporada de verão. No Natal, sendo uma festa familiar, psicologicamente estava me preparando para uma cidade fantasma, mas constatei o contrário e presenciei um verdadeiro show de confraternização para diferentes públicos.

Sanary iluminada
Sanary iluminada

Durante todo o mês de dezembro, a cidade promove o Just’Nöel Sanary, aberto oficialmente com a inauguração da iluminação de Natal. No mar, nas ruas, nas árvores, cada detalhe traz uma luz diferente à cidade, que encanta e atrai turistas. A festa continua com a inauguração de um aconchegante espaço para degustação, que promove diferentes shows musicais e incentiva os encontros regados à tradicional bebida da época, o Vin Chaud, para esquentar as frias noites de Sanary.

Vin Chaud
Vin Chaud

Diferentes ateliês de confecções de enfeites vão introduzindo nas crianças de todas as idades o espírito natalino. Em cada loja, a criatividade da vitrine não tem como passar despercebida. E, pelas estreitas ruas do Centre de Ville, centenas de pessoas se cruzam no percurso dos enormes presépios instalados em diversos pontos e com diferentes abordagens. A sensação é que a cidade se transforma em um grande palco e somos todos atores, mesmo que coadjuvantes.

No dia 23, o Port Sanary, desde cedo, se colore de vermelho a espera de Papai Noel, que chega em um barco no mar Mediterrâneo. Depois de levar a criançada ao êxtase, a festa continua, com a apresentação musical Chant des Étoiles, além de uma incrível performance em pernas de pau, que vai culminar com uma queima de fogos, capaz de transportar em emoção ao Ano Novo em Copacabana, no Brasil.

Contrariando o mito de que o francês não é amistoso aos estrangeiros e confirmando a hospitalidade e gentileza que venho encontrando nesse meu percurso até o momento, na ceia da noite do dia 24, um momento familiar em qualquer lugar do mundo, não faltou convites para participar.

Certamente, o Natal no inverno tem um toque especial e Sanary e os franceses me mostraram que em família, acompanhada ou não, nessa cidade, todos terão sempre um lugar e os festejos de fim de ano são uma opção que vale muito a pena conhecer e experimentar.

Gostou do post? Deixe um comentário.

Comments

  1. Syvia says:

    Muito legal Vi….toda essa preparação para o Natal e o acolhimento que a Cidade por sua vez oferece nessa data que eu acho tão triste, principalmente longe dos familiares. Bjs

    • Virginia Prado says:

      Sim. Eu também sinto o mesmo que você no Natal e Sanary-sur-Mer me surpreendeu. Vale a pena conhecer de perto.

O que você achou do post? Comente.