O caminho do lixo na era digital

Pequenos imprevistos no nosso cotidiano podem nos levar a um percurso inesperado, que acaba viabilizando enxergar nossas ações por um outro ângulo.
Um simples problema com meu celular, a demora em tomar uma atitude e o resultado da ação,  me levou a percorrer o caminho do lixo na era digital.

Após constatar não estar na garantia, conviver por quase um mês com a bateria do celular me deixando na mão nos momentos mais necessários, até precisar chegar ao ponto de só funcionar fazendo uso da eletricidade,  o primeiro pensamento foi trocar o aparelho. 
Estamos vivendo em um tempo que não temos tempo para pensar. O que apresenta defeito ou não funciona, conforme a nossa expectativa, simplesmente descartamos. É mais fácil, mais rápido e as consequências da decisão, na maioria das vezes não faz parte de nossa preocupação.   É o imediatismo em ação. Se o mercado impôs ou fez a leitura é um assunto que pode render uma polêmica sem prazo para terminar. O fato é que esse mercado se reformulou e atende nossos desejos e necessidades. Bens materiais, hoje, têm uma vida cada dia mais curta. Se não gostamos, não demonstramos. Parece, no mínimo, que já nos acostumamos. Quantos já se viram acumulando vários celulares e carregadores sem saber qual destino dar?  Embora a relação lixo e natureza possa estar na pauta de governos, de grupos ativistas e iniciativas individuais, o impacto da nossa falta de ação ainda não causou um incômodo capaz de promover uma grande conscientização mundial.

Mas, podemos acreditar que já demos a largada.

Esse pequeno episódio me faz refletir sobre como nos tornamos potenciais produtores de lixo não só no plano material, mas também levando essa atitude para o campo das emoções, das relações. E, esse, por não ser visível aos olhos, pode tornar-se imperceptível.  Mas quem leu O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, sabe o que é essencial e deveria ser visto com o coração.

Na era dos cliques e na mesma velocidade, curtimos e deixamos de curtir  o que realmente gostamos e também o que nem sequer tivemos tempo para avaliar. Na era dos cliques, muitas vezes, você vê, mas não lê o que está escrito. Não podemos perder tempo, mas não percebemos o tempo que nos consome. Diariamente, são milhões de informações para processar, milhares de amigos para contactar.

Mas, e o lixo, onde está? Na nossa falta de saber administrar.

O diálogo, olho no olho, tem a cada dia cedido espaço ao virtual. São amizades, namoros, conversas, discussões, informações e desinformações, tudo feito à distância e que nos faz acreditar estar a cada dia mais próximos.

Na era da tecnologia, o que era para ser ganho, já não sei mais se o tamanho da  perda é possível  mensurar. Assistimos amizades bloqueadas, sem direito a dialogar, e relacionamentos se findarem, via celular. Não que o novo ou moderno não  deveria ter espaço para chegar, mas que soubéssemos melhor utilizar e aproveitar.
As relações, assim como qualquer bem material, muitas vezes podem por longo tempo durar, se você tiver disposição, apostar e querer consertar e não detonar. A opção pelo lixo, certamente, nos faz perder mais do que ganhar.

Em cada celular que optamos por trocar, perdemos momentos, milhões de registros e contatos, se na nuvem não lembramos de estocar e que também é um lugar que muitas vezes nem vamos acessar. Nos satisfazemos em saber que lá está. Nos relacionamentos, não é diferente, só que não existe nuvem para guardar e perdidos, em algum lugar, vão ficar.  O começo sem um fim. E, é assim que será.

O conserto, material ou emocional, pode ser simples, evitar grandes gastos e desgastes desnecessários. O conserto pode contribuir para não mais acumular o lixo que um dia pode querer voltar. Afinal, a vida do novo quem vai poder garantir quando tempo vai durar. Então, por que não optar por consertar?

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Comments

  1. Maúde says:

    É verdade, Vi!! Vamos tocando a vida sem parar pra ver o impacto do nosso comportamento. Excelente post!! Beijo saudade!!

    • Virginia Prado says:

      Obrigada! É sempre bom saber que o que escrevemos esteve sob o olhar de alguém e, se conseguiu ir além, cruzou a linha de chegada.

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