Por que não um percurso sabático com mais de 50?

Por que não um percurso sabático com mais de 50?
Com mais de 50, aos 30 ou aos 20 anos. Na verdade, não existe idade limite para experimentar ou conhecer uma nova profissão, cidade, vida ou você. Basta se propor a querer sair da caixinha e encarar o percurso que escolher.
O período sabático para quem tem mais de 50 pode ser confundido com uma temporada de férias. Pode até ser uma opção, mas não na definição do termo e na maioria dos casos, na qual eu me incluo.
Período sabático é o tempo para ser dedicado a um olhar de fora da rotina, que permita promover mudanças necessárias, emocionais ou profissionais. É o tempo de buscar o seu eu, que é tão prazeroso como umas férias, mas, ao mesmo tempo, fatigante como um acúmulo de horas extras de trabalho.

Período sabático pode ser só, com amigos ou em família. Pode ser em um só lugar ou em vários. Pode ser vivenciando um aprendizado, uma profissão, uma língua estrangeira, uma nova forma de olhar de frente para a vida ou apenas só observar.
Período sabático visa a mudança, a transformação, a evolução, mas requer também desejo, disposição e estrutura.
Período sabático não tem prazo fechado comum a todos.  Pode até ser organizado dentro de um espaço de tempo determinado, mas essa relação com o resultado será sempre pessoal e imprevisível.
Período sabático pode não ser o que você imagina. Pode ser mais ou pode ser menos. Depende da sua expectativa, do seu planejamento e organização.
Eu nunca visualizei o período sabático como a varinha mágica, para resolver meus problemas, ou, muito menos, o tapete voador para fugir desses. Viajei com meus problemas na bagagem para encará-los de frente. Por pensar assim, talvez, esteja tendo mais encantos do que desencantos; enxergue as experiências a alguns passos adiante no futuro e consiga encarar os momentos difíceis do presente.

Quase chegando aos 60, vejo esse período como a oportunidade de poder continuar a escrever histórias e não apenas ler capítulos passados.
Imagino que, em qualquer idade, é um período mesclado com momentos de plenitude e de vazios, de grandes alegrias e profundas tristezas. É como se colocasse seu emocional em uma roda gigante e que várias vezes dá até vontade de parar e descer.
Viver essa experiência aos quase 60, é descobrir um percurso mais trabalhoso, com mais curvas e subidas. É constatar o peso da idade, apesar de sentir-se uma maratonista em plena forma, capaz de cruzar a linha de chegada dando pulos de alegria.
Na largada já é possível perceber a diferença. Quando jovem, pode significar a primeira de muitas corridas para mudanças de percurso. A cobrança de ter que dar certo pode ser menor e o trajeto torna-se mais leve. Proporcionalmente ao aumento da idade está a quantidade de bagagem que terá que se desfazer ou deixar para trás, sem a garantia de que terá tempo para poder substituí-la ou resgatá-la. Tudo isso pode fazer com que o aquecimento se processe de forma mais lenta e que cada passada mal dada transforme-se em questionamentos. Vencendo a barreira da largada, entrando na corrida sem receio de fazer o percurso e conscientizando-se de que só andando para frente conseguirá enxergar a chegada, começa a prova de obstáculos e, quem sabe, as conquistas.

No emocional, e se comparado a um computador, a idade faz com que encontremos um HD mais cheio, com muitos arquivos que nem sequer lembrávamos que existiam, mas, que quando abertos, provocam nostalgia, requer um esforço de desapego para deletar e tomam  mais tempo do que o necessário.
Penso que o mais difícil  de um período sabático também não é receita de bolo por faixa etária.  Penso que a saudade é o maior inimigo e, talvez, em qualquer idade. Tem dias que chega ao acordar. É um bom dia de aperto no coração. Às vezes, finge que vai embora e deixa até acreditar estar começando a acostumar. Mas, volta de repente, só para lembrar que viajou junta, e, assim, pretende ficar.
Se por um lado a saudade vem para ficar, as amizades ou amores, que acreditamos acumular, tomam outro rumo. No período sabático vão se perdendo pelo caminho. Algumas até mesmo antes de aterrizar. Na verdade, não eram amizades e nem amores. Em princípio, é difícil assistir diminuir o que achava não ter como mensurar e, mais ainda, admitir o quanto é substituível ou esquecível em um prazo tão curto.  Mas, com esse olhar de fora é capaz de perceber, que fica o que de fato sempre existiu e que a distância e o tempo jamais vão mudar.

No lado prático dessa corrida sabática, é um exercício diário de persistência. É driblar, dia a dia, um olhar que não entende o porquê de querer mudar nessa idade. É uma porta mais difícil para abrir no aprendizado e no trabalho. É acostumar-se a ser barrada muitas vezes, sem a chance de mostrar quem você realmente é.  Mas, cada quilômetro que avança tem mais do que um simples sabor de vitória. Tem também o prazer de quebra de padrões estipulados.
Eu quero muito poder completar essa maratona sabática sem acelerar a passada e muito menos interromper a corrida.  Quero conhecer todo o percurso, aprender e, principalmente, me fortalecer. Quero poder criar raízes profundas para que toda essa teoria da vivência me transforme na pessoa que espero encontrar na chegada.

Só assim, poderei ter a certeza de ter tomado a decisão de largar no prazo certo.  Só assim, chegarei ao final do percurso com a mesma pergunta da largada:  por que não um percurso sabático com mais de 50?

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