O motivo da saída era procurar um restaurante de brasileiros em Le Brusc, Six Fours Les Plages, que todos comentam quando ficam sabendo da minha origem. Animada no meu projeto de recuperar a boa forma física, decidi por fazer uma corridinha básica até a Île de Gaou e, na volta, iria conhecer o restaurante que, segundo explicações, ficava no início do caminho para a Chapelle Notre-Dame du Mai.
A orientação de todos sempre foi muito básica e eu, sinceramente, achei que era suficiente. Não me disseram o nome do restaurante e também não perguntei. Achava que encontraria algo verde e amarelo ou alguma palavra em português. Entrei no caminho para a capela ainda trotando e segui em frente sempre olhando para um lado e outro. Era uma parte de Six Fours les Plages que eu não conhecia com ruas e casas aconchegantes. Fui avançando e nada do restaurante ou algo que pudesse me lembrar Brasil.
Sem perceber, a distância entre as casas tornava-se espaçada. Mas, a possibilidade de o restaurante estar logo ali na frente me fazia seguir adiante.O trote começou a ficar próximo de uma caminhada e a subida parecia não ter fim. Já estava dentro de uma floresta. Notre Dame de Mai, no topo da montanha, ainda estava distante. Mas aquele distante que engana e parece próximo. Por várias vezes pensei em dar meia volta. Mas logo afugentava tal pensamento. Eu imaginava já ter feito uma boa parte do percurso. Estava ali tão próxima e queria conhecer a capela. O restaurante deixou de ser a prioridade.
O dia estava abafado e a corrida lenta foi definitivamente substituída pela caminhada, não por cansaço. Minhas pernas estavam tendo um desempenho acima do esperado. Eu sentia necessidade de ingerir líquido.
Qualquer barulho, que não fosse dos pássaros, era motivo de alerta. Pensava na hipótese de estar frente a frente com um sanglier. Esse receio passou a fazer parte das minhas caminhadas solitárias em florestas desde que esbarrei em uma placa, no percurso de Saint Mandrier, avisando sobre a existência de animais na região. E eu estava dentro de uma floresta. Tentava me lembrar das orientações de um profissional que eu havia lido na internet
Em alguns momentos, confesso que cheguei a pensar sobre o que estava fazendo ali. Em outros, viajava em pensamentos. Cheguei a comparar o meu trajeto solitário até Notre-Dame du Mai com o do caminhante em direção a Santiago de Compostela. Lembrei-me da Angelina, uma amiga jornalista que, naquele momento, deveria também estar em seu percurso até Compostela. Dessa forma conseguia vencer o percurso e esquecer o medo.
No meio do caminho, a tentação em formato de banco. Vontade de parar e só apreciar a natureza. Depois de subir muito e perceber alimentar um medo infundado, lá estava eu em frente a Notre-Dame du Mai, que estava fechada. A vista deslumbrante e imperdível te faz esquecer o cansaço. Foi pena que o dia não estava ideal para fotos.
A volta foi bem mais rápida e relaxante. O desconhecido já havia ficado no passado. Tive tempo para apreciar o canto dos pássaros e a beleza da natureza. Sentir o perfume das flores e até parar quando duas borboletas resolveram brincar diante dos meus pés. E, o mais importante: a sensação de vitória pessoal.
Sem programar, acabei fazendo o pacote dois em um com um belo treino turístico.
Existem vários trajetos para chegar a Notre-Dame du Mai. Eu fui pela estrada, mas tem caminhos por dentro do Massif du Cap Sicié ou um percurso beirando o litoral, com opções de saída por Six Fours Les Plages ou La Seyne sur Mer. O trajeto que fiz do Port du Brusc à Notre-Dame du Mai deu em torno de 12km, ida e volta, com muitas subidas e descidas. Esta pode também ser a escolha de quem só quer apreciar a paisagem sem grande esforço físico, já que o carro não chega até a capela. É preciso fazer uma pequena caminhada em todas as opções. O trecho é íngreme, porém curto. Nada impossível de percorrer e até crianças pequenas conseguem completar. Sem dúvida, o visual vale a pena. Antes de partir, o ideal é conferir os horários de funcionamento no Office de Tourisme ou internet para apreciar a capela por dentro.
E o restaurante brasileiro? Não encontrei. Fica para uma próxima ida a Le Brusc.
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Bom estar pronta pra mudar de planos…
Adorei!!! Queria estar ai com vc…
Não conseguiu comer o feijão com arroz à brasileira. Mas, a vista valeu o percurso.
Bj.