Um dia de corridas em Bandol. Apesar de ficar sabendo apenas na véspera pela internet, decidi que essa seria a minha programação. Correr não seria possível. Não havia me preparado e, sim, abusado durante a semana de retorno às pistas.
A primeira corrida foi a Bandolaise, um tradicional evento à fantasia, com percurso de 5,2 km e largada prevista para às 10 horas. Parti de Sanary caminhando. Sentia um pouco a canela e joelho. Acho que iniciava a famosa dor de principiante, mesmo já sendo uma master em corrida. O meu trajeto, velho conhecido, era de cerca de 6km de ida, encarando no início as subidas da Avenue de la Resistènce e Chemin du Diable, nada comparado com a subida constante da Route de Bandol. Nos 6 km que teria que encarar na volta e sob sol quente.
A largada aconteceu com alguns minutos de atraso, nada que tirasse a alegria dos participantes, que abusavam na criatividade e aproveitavam o evento para confraternizar e solidarizar-se com a campanha da associação Sauvons une vie pour Caroline. A campanha tem por missão recolher fundos para a compra de desfibriladores automáticos externos para serem instalados em locais ao ar livre, estrategicamente identificados, e disponíveis para todos que necessitarem no município de Bandol.
As fantasias me fizeram reviver o Carnaval e a corrida, o meu tempo de competição no Brasil. Enquanto os participantes caminhavam para a largada, na minha cabeça passava o filme de como comecei a competir sem gostar, ou melhor, com pavor. A hora da largada era sempre um momento de pânico, que diminuía de intensidade a cada passada e se transformava em prazer à medida em que o corpo aquecia e a mente podia viajar. Quanto mais quilômetros, maior o prazer. Foi assim que experimentei, por acaso, os 42,195 km de maratona. E, é por essas lembranças que, mesmo depois de três décadas, ainda tenho o desejo de completar uma maratona.
O prêmio e a premiação merecem ser destacados. Na terra do vinho, todos os que completavam a prova ganhavam uma garrafa. Nada melhor para poder comemorar em grande estilo. Também achei uma ótima ideia a premiação simultânea, feminina e masculina, tanto na geral, quanto por categoria. Agiliza o processo, além de nivelar a valorização do feito de ambos os sexos.
As organizações de corridas podem ter seus atrativos e regulamentos diferenciados, mas as sensações dos participantes, em qualquer parte do mundo, fazem do ambiente um lugar comum a todos os corredores. Sem conhecer qualquer pessoa, me peguei vibrando com cada chegada, com cada comemoração em grupo ou individual.
Gostei tanto de ver, que venci o cansaço dos 12 km diurnos e repeti a dose. Mais 12 km ao anoitecer para ver a Salomon Bandol Classic, a segunda corrida do evento. Dessa vez, em um percurso mais longo, de 12,4 km, e mais difícil com diferentes tipos de piso (asfalto, terra batida, pedras, areia). A corrida atravessa pequena parte do início da trilha do litoral Bandol a Saint Cyr, uma floresta de pinheiros até o culminar no topo de Roustagnon. Na volta, a areia da Plage de Renécros para finalmente alcançar a chegada em frente ao Port de Bandol. Apesar do grau de dificuldade, a prova tinha um maior número de corredores, alguns que inclusive já haviam participado da Bandolaise.
A terceira prova do dia, Bandol Classic au Clair de Lune, teve largada às 22:30 e para minha tristeza não deu para assistir. Nesse horário, eu não teria opção de transporte para retornar à Sanary. Peguei coragem para encarar mais uma vez a subida da Route de Bandol nos meus 6 km de volta para casa. Eu não corri, mas acabei fazendo cerca de 24 km de caminhada.
Enquanto os corredores davam a largada em companhia da lua, eu me contentava em largar para a cama, na certeza que iria cair em sono profundo, proporcional ao cansaço.
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