Nunca é tarde para o primeiro albergue da juventude

café da manhã no primeiro hostel geral

Quase um mês sem post novo, mas muita correria, novas experiências e dificuldades para me conectar. Esse foi o meu Maio. Sai de Sanary, no início do mês, com o coração apertado por imaginar que, talvez, não tivesse mais oportunidade de desfrutar desse paraíso que descobri por acaso; fiz de lar durante três meses; conheci lugares inesquecíveis; e encontrei parceiras e verdadeiras amigas.

Meu destino foi Paris. Encontrar meu irmão e cunhada. Amenizar a saudade da família. Aproveitar para fazer possíveis contatos. Parti de uma cidade, onde o tempo parece ter feito um acordo com quem não tem mais tempo a perder, para uma outra, onde o tempo parece promover, ininterruptamente, uma verdadeira corrida. Duas cidades encantadoras, cada uma no seu próprio estilo.

E foi nessa viagem à Paris, que fiz minha estreia em um hostel, ou melhor, um albergue para juventude, quase com os pés nos 60 anos.  Eu já tinha acampado, dormido em “hotel ninguém merece” e em quarto em casa de pessoas desconhecidas, alugado por site. Mas, nunca tinha experimentado um hostel.

Aqui abro um parêntese para confessar que sou uma pessoa que me adapto fácil às situações. Mas, cama, e não importa que seja um colchão no chão, sempre foi um dos meus grandes motivos de preocupação, quando viajo para algum lugar. Não chego a ser como um personagem de uma novela brasileira que a cama tinha que estar completamente esticada. Só não gosto de bagunça e, claro, limpa. Banheiro comunitário e fora do quarto, também sempre foram preocupações. Mas, eu já tinha quebrado o tabu em outras hospedagens.

Cheguei em Paris, pela manhã, depois de 13 horas de viagem e um dia corrido e estressante. Arrumar a bagagem, entregar apartamento e, o pior de tudo, me movimentar para a estação carregando a famosa mala pesada. Três meses não foram suficientes para me fazer esquecer o pesadelo da mala ou, pelo menos, para me fazer tomar providência de eliminá-lo. La estava eu, novamente, alugando o proprietário para me ajudar a descer os três lances de escada do imóvel. Lá estava eu, novamente, me arrastando pelas ruas de Sanary, mas, agora, no calor, quase Rio 40° graus.

Foi nesse estado que cheguei na Cidade Luz. Mas, feliz por encontrar meu irmão e com grande expectativa de bons contatos. Deixei minha bagagem, sem noção, interrompendo o trânsito no pequeno apartamento em que estavam hospedados e fomos dar uma volta, relaxar.  O meu primeiro contato com o hostel ficaria para mais tarde.

O previsto era ficar um total de quatro dias no hostel, antes de partir para algum destino que, naquele momento, eu não fazia a menor ideia de qual seria. Os meus dois primeiros dias no albergue transcorreram maravilhosamente. Local agradável, temperado com a alegria de grupos de jovens de diferentes países e lençóis limpos. Primeiramente, dividi o quarto com uma jovem francesa. Não sei se por cansaço, mas apaguei. Aprendi, errando, o horário de tomar um banho sem a pressão de uma fila a sua espera. Aprendi a técnica de vestir rapidamente uma calça em um cubículo molhado.

área externa do primeiro hostel
área externa do primeiro hostel

No segundo dia, mesmo quarto, mas novas companheiras, dessa vez mais barulhentas na hora de chegar de madrugada. Mas, eu sabia que fazia parte do albergue da juventude. Eu era a estranha no ninho. Era só uma questão de entrar no ritmo. Afinal, para quem teve cinco filhos, tarefa nada difícil.

O meu terceiro dia de hostel, já não foi no mesmo, embora da mesma rede. Me vi diante de um quarto em que eu seria a décima ocupante. Imaginei ser impossível dormir. Estava errada e constatei: não importa a quantidade, mas a qualidade dos ocupantes.

banheiro no primeiro hostel
banheiro no primeiro hostel

Os quatro dias de hostel, acabaram virando sete, alternados, e sempre uma caixinha de surpresas. Revezava-me entre as duas hospedagens. Divertia-me com a alegria dos jovens na sala de estar. Procurava ir para cama na hora do sono e já pronta para não ter que entrar e sair. Know-How de fazer inveja a qualquer um.

Tive companheira de quarto que segurou a porta para entrar e me ajudou a escalar o beliche sem escada. Mas, também, tive outra que me trancou, propositalmente, fora do quarto, depois de ocupar a cama, que, teoricamente, seria a minha. E o que é mais incrível: não era jovem.

Quando pensei que já tinha história sobre a minha experiência em hostel, surgiu, como única opção, o terceiro da mesma rede.  Assim que entrei, deu para perceber que era uma furada. O atendente, com um ar irônico, indicou-me o terceiro andar da última ala do casarão antigo. Ainda na recepção, fiz questão de confirmar minha reserva de uma cama em quarto feminino feita pelo site. A escada estava sem luz e deserta. O quarto estava vazio. Aliás, todo o andar, ou talvez, ala. Comecei a fabricar pensamentos negativos. Tive medo. Quando pensei em ir embora, apesar da hora, surgiu um casal de jovens espanhóis. Apesar de não entender a presença masculina no quarto, de uma certa forma fiquei aliviada.  Grande ilusão. Durante boa parte da madrugada, entraram mais homens. Foi quando tive certeza que o quarto era misto. Duas mulheres e quatro homens, sendo que uma delas era eu. Não vi os rostos. Não consegui dormir. Fiquei em estado de alerta ao som de uma insuportável sinfonia de roncos. Contava, não carneirinhos, mas a hora para o dia amanhecer e poder deixar o local.

Cama no primeiro hostel
Cama no primeiro hostel
café da manhã no primeiro hostel
café da manhã no primeiro hostel

Apesar de alguns imprevistos desagradáveis, valeu a experiência. O hostel pode ser uma das opções para quem não quer gastar com hospedagem em Paris. Em termos de pontos turísticos, todos os três estão bem localizados. Se der sorte, encontra diárias de até 15 euros, fazendo a reserva pelo site, que tem preço variável, dependendo do dia.  No local, o valor é fixo. No momento, 30 euros em qualquer um dessa rede.  No pacote está incluído o café da manhã.  A internet em alguns é grátis. Em outros, paga-se cerca de 2 euros. Não aceitam pagamento em cartão.  No site, apesar de citar um limite de idade, é possível fazer a reserva e hospedar, sem problemas. Pelo menos, eu não fui barrada no hostel. Será que me acharam com espirito de 35? Fica a dica.

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