A imperdível trilha dois em um

família com poodle no caminho
mais uma praia para apreciar
Mais uma praia para apreciar. Trilha do Litoral de Bandol a Saint Cyr

A trilha do litoral de Bandol a Saint Cyr não me saiu da cabeça desde que soube da sua existência em visita ao Office de Tourisme. Mas achei que tinha que me preparar psicologicamente para fazer 11km sozinha. O primeiro passo foi literalmente metralhar a atendente do Office com milhões de perguntas sobre cuidados e perigos da trilha. O mais engraçado é que, apesar de já estar há três meses na região, sempre pergunto sobre possibilidades de assaltos e sempre me devolvem, como resposta, um olhar tipo não entendi sua pergunta. Imagino que assalto em trilhas é algo que não faz sentido para eles. Mas, esse olhar indagador me tranquiliza.

Fazer a trilha acabou acontecendo quase que por acaso. Parti de Sanary pensando em explorar o lado de Bandol que eu ainda não conhecia. Fui me deixando guiar pelas placas. Cada cantinho, cada praia, me instigava a seguir em frente. E, de repente, lá estava eu dentro da trilha.  Comecei a cruzar com pessoas bem mais velhas, crianças e fui tomando confiança.  O vento, no alto e bem junto ao mar, me aguardava sempre em trechos que estava sozinha. Já começava a achar que faz parte do tempero dessas trilhas. Nessas horas, procurava me lembrar das crianças e até de um valente poodle, que encontrei saltitante pelo caminho.

A marcação amarela, em árvores ou pedras, determina o caminho seguro. É preciso prestar bastante atenção. Essa procura pela sinalização me faz voltar à infância, a descoberta do tesouro perdido. Às vezes, à vista. Às vezes, um pouco escondida. Parecendo mesmo querer pregar um susto em quem topou entrar na trilha. Ao longo do percurso, também tem vários pontos com um mapa do trajeto para dar ideia da localização. Tem ainda uma placa com a quilometragem para ambos os sentidos e uma numeração que serve para identificar o local onde estamos em caso de necessidade de socorro.

Durante a caminhada, eu adotei uma estratégia própria. Sempre que estava insegura, por algum motivo, diminuía o passo e aguardava a presença da família com o cachorrinho. Cheguei até a pedir para fazer parte do percurso ao lado deles, após constatar que ainda faltavam mais de seis quilômetros para chegar em Saint Cyr e já era quase final de tarde. Eu tinha receio que escurecesse ou o tempo virasse. Foi assim que descobri que a família iria apenas até Port D’Alon, onde haviam deixado o carro. Imediatamente, também disse que seria meu destino final. Seguindo em frente, e tentando manter um diálogo, resolvi perguntar qual seria o meio de transporte disponível para retornar a Bandol. Foi quando eles chegaram a parar para me responder. Em princípio, imaginei que não haviam compreendido o meu francês. Mas, era pior do que isso. Eles estavam tentando encontrar uma forma para me dizer que somente dando sorte de encontrar uma carona em Port D’Alon.

família com cachorro no caminho
família com cachorro no caminho

Nesse momento, caiu a ficha. Agora era minha vez de ficar muda tentando encontrar uma saída. Tentei pensar alto.  Era um jeito meio torto de pedir ajuda. Juntos, chegamos à conclusão que o melhor era retornar pela trilha. Seriam pouco mais de 5km naquela altura do trajeto. O problema é que 5km em uma trilha não é a mesma coisa do que em asfalto. O percurso passou todo na minha cabeça como um filme. Fiz a conta rapidamente e era preciso acelerar o passo para chegar antes do pôr do sol em Bandol. E foi isso que eu fiz. Passei a caminhar contra o tempo, com a vantagem de conhecer o trajeto.

Todas as vezes que encontrava alguém ficava satisfeita, mas, quando percebia que estavam andando muito devagar, preferia não me arriscar, novamente, a ficar no meio do caminho. Deu tudo certo. Nesse dia, foi uma meia maratona caminhando. Cheguei em casa e desmontei.

Mas não esqueci. Eu estava determinada a conhecer o trecho da trilha do litoral que ficou por fazer. Dois dias depois estava eu de volta à trilha de Saint Cyr. Acabei optando por pegar o trem até a cidade e fazer o sentido inverso até  Port D’Alon. Percorri toda a orla de Saint Cyr, do Noveau Port à Plage de la Madrague, onde começa a trilha sentido Bandol.

Que bela trilha e vista inesquecível, inclusive das calanques de La Ciotat. Estava ventando e preferi não me arriscar até Port D’Alon.  O que percorri foi suficiente para ter certeza que é uma trilha que deve ser incluída na programação de quem vem para essa região. Eu não fiz, mas é possível dar um mergulho nas praias pelo caminho ou fazer um piquenique.

Quem não é adepto de caminhadas, tem a opção de apreciar essa paisagem  por um outro angulo. Existe uma variedade de oferta de passeios de barcos em todas as cidades da região.

Pode até parecer que as trilhas são iguais e com as mesmas paisagens deslumbrantes. Mas, não são. Cada uma é singular. Tem algum detalhe muito próprio, seja na beleza ou no suspense do trajeto. Só mesmo experimentando para saber.

 

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