Um javali para refletir

placa alerta javali

O que você faria se estivesse só, no meio de uma subida, depois de já ter percorrido mais de 10 km, e se visse diante de uma placa com alerta de possibilidade de encontrar um javali? Essa foi a minha grande aventura no caminho para Saint Mandrier. Eu cheguei quase a entrar em pânico, mas a descida surgiu, acelerei o passo e descobri o paraíso.

Saint Mandrier é uma cidade que não pode deixar de ser incluída na programação. Para quem gosta de correr ou caminhar, fica  cerca de 14 km, saindo do porto de Sanary. Um bom treino para conciliar atividade física e turismo. Mas, se sua temporada na região não inclui um par de tênis, muita disposição para aventuras e imprevistos, existem diferentes maneiras e meios de transportes, até mesmo de barca para chegar nessa pequena península.

Vista do Porto de Saint Mandrier
Vista do Porto de Saint Mandrier

 

Se optar pela corrida ou caminhada, ainda pode escolher fazer o percurso pela trilha do litoral, com uma paisagem estonteante, partindo do porto de Saint-Elme em La Seyne. Antes de planejar o trajeto, é aconselhável consultar o Office de Tourisme e se informar. Apesar  de sinalização nas trilhas, muitas vezes alguns trechos estão interditados. No Office, você também tem acesso a uma variedade de percursos, com serviço completo.  A dificuldade de cada trecho do caminho é determinada por cores. Aprendendo essa leitura, você pode escolher de acordo com seu preparo físico.

Eu não segui meu próprio conselho para fazer o percurso. E,  talvez, não tenha aproveitado tudo que teria direito. Eu tinha feito uma trilha do litoral, recentemente, e, mesmo me sentido completamente atraída por esse tipo de percurso, achei que precisava fazer uma caminhada sem fortes emoções. Parti para Saint Mandrier atravessando as cidades de Six Fours Les Plages e La Seyne.

A maior parte do trajeto, eu já  conhecia, quando corri 21 km, ida e volta de Sanary a Les Sablettes, em La Seyne. Os cerca de 10 km  passaram sem perceber. Era uma nova paisagem em um caminho já conhecido. As árvores, antes peladas, começavam a dar um colorido diferente  e me proporcionava uma sensação de ter o privilégio de ser espectadora desse renascer da natureza.

Da orla da praia, cortei por dentro do Parc Fernand Braudel, saindo em frente ao ponto de barco La Sayne /Toulon e com uma linda vista das duas cidades.  Saint Mandrier era meu objetivo e prossegui a caminhada me guiando pela  sinalização em direção ao centro da cidade.  Um casal de ciclista, à frente, me deu certeza de estar no caminho certo.  Nesse ponto, sinceramente,  penso não ter feito a melhor opção para um percurso a pé.  Mas, só fui perceber no meio da subida.  Cruzei com o casal de ciclistas, já retornando, e imaginei que o meu destino estivesse logo adiante.

Mais subidas e curvas e apenas carros nos dois sentidos. Estava na D18, Route Michel Giovannini. De um lado, um extenso muro cercava uma propriedade da Marinha,  com placas orientando manter distância. Do outro, uma linda floresta. Bateu  vontade de entrar e conhecer. Mas, ficou na vontade.

Uma placa de alerta com o desenho de um javali foi o suficiente para acabar com a minha tranquilidade. A subida de cerca de 2km parecia não ter fim. E eu sem qualquer opção  de plano B, só imaginava a possibilidade de um javali aparecer e não ter pernas para correr. Pelo tanto que já havia subido, calculava que retornar daquele ponto seria dar mais chance ao acaso.

A adrenalina já estava no grau máximo. Quase no final da subida, depois de inúmeras curvas traiçoeiras, enfim, um ciclista. Nunca me vi com o raciocínio tão rápido para formular e perguntar, em francês, em tempo, para que ele pudesse me escutar. Eu só queria saber se estava no caminho certo. Com a sua afirmativa, e presença no local, respirei aliviada. O ciclista rapidamente desapareceu pelo caminho que contornava a floresta. Pensei em seguir seu rastro, mas, diante de mais uma placa de alerta sobre javali, preferi o trajeto dos carros. Finalmente a descida e uma linda vista da cidade, que se encarregou de afastar o medo.

Saint Mandrier igreja
Saint Mandrier igreja

Saint Mandrier é um local encantador.  A igreja da praça, crianças brincando, o cais do porto e, do outro lado do mar, Toulon fazem parte desse cantinho do departamento do Var, que dá a sensação de que o tempo corre lentamente.  A cidade tem também lindas praias, que deixei para conhecer em uma próxima vez. Já era fim de tarde e de caminhada. Era hora de experimentar o trajeto de barca até Toulon. Cerca de 20 minutos para relaxar, admirar a beleza do Mediterrâneo e as  cidades ao seu redor, e refletir.

visão geral do Porto de Saint Mandrier
visão geral do Porto de Saint Mandrier
Barco no porto de Saint Mandrier
Barco no porto de Saint Mandrier

A possibilidade de estar frente a frente com um javali, um animal que teve um aumento populacional expressivo na França, me fez conversar com habitantes e pesquisar sobre o comportamento do animal. É sempre  uma questão de respeitar limites e hábitos. Em princípio, sou contra o extermínio injustificável ou por lazer. Em princípio,  penso que o maior problema continua sendo a ação do homem na natureza. É claro que cada situação é única e, assim, deve ser analisada.

Na bagagem de volta, um grande aprendizado e uma boa história para lembrar.

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Comments

  1. Silvia Faria says:

    Deliciosa viagem – ofegante ainda – pois corri com vc… e claro, morri de medo de me deparar com o javali… mas ficou a vontade de enquadrá-lo numa moldura inesquecível pelo encontro… isso porque não li nada e sei menos ainda sobre o comportamento desses bichinhos… “ficamos na vontade”, juntas, creia…
    Tô adorando correr com vc e me surpreender com as fotos sentindo até o ar fresco de locais tão lindos…
    Obrigada por me levar…
    Bon Voyage!!! Aquele Abraço!! Silvia

  2. MARIA LUCIA AZEREDO MURTA DA FONSECA says:

    Sua riqueza de detalhes me fez sentir medo do javali também. Rsss Estou amando seus posts. beijo com saudade

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