Percurso das Surpresas

Sinalização avisa para perigos dos penhascos

 

Uma montanha que oferece inúmeros percursos e reserva muitas surpresas. Assim é Gros Cerveau. Quando a minha professora de Francês fez a proposta de uma aula caminhando pela montanha, eu imaginei que seria um trajeto não muito diferente do que já havíamos feito nos primeiros dias que cheguei na França. Afinal, minhas duas colegas de classe, apesar de jovens, não estavam habituadas a esse tipo de programa. Pensei errado. Marie presenteou-nos com um percurso para colocar em teste o nosso preparo físico e psicológico.

Com um dia perfeito de céu azul e temperatura amena, começamos nossa caminhada cortando pelas ruas de Ollioules. Era o início da aula aventura. Eu estava empolgadíssima só pelo fato de saber que teria muitas horas para treinar o meu Francês. Tudo era motivo para puxar uma conversa. Eu precisava falar, perguntar e apurar meu ouvido para entender o que diziam.

A linda vista e o colorido das flores ao longo do trajeto, nos fazia esquecer a subida puxada para um corpo ainda preguiçoso e em processo de aquecimento.  Nesse quesito, eu levava vantagem sobre minhas companheiras. Já havia feito os 6km de Sanary-sur-Mer até Ollioules.

Flores da montanha de Gros Cerveau
Flores da montanha de Gros Cerveau

Um castelo feudal do século XI na montanha de Gros Cerveau dava a certeza de que a aula de francês teria um tempero a mais

Na primeira parada, em um castelo feudal do século XI, a certeza de que nossa aula teria um tempero a mais. Além do aprendizado da língua e da prática de uma atividade física, um banho de História. Nas ruínas do castelo, uma parada providencial para apreciar a vista e recuperar o fôlego para encarar o que estava por vir.

Na segunda etapa, entramos em uma trilha estreita e continuamos a subir. Nada de folga, mas, com a recompensa de uma vista linda de Ollioules até o porto de Toulon. Terminada a trilha, pegamos um pequeno trecho da GR51. Foi o momento de cruzarmos com ciclistas e corredores, antes de retornarmos para mais um caminho de terra batida, pedras e muita, mas, muita subida. Lá do alto podíamos ver o quanto já havíamos caminhado. Se meu tênis falasse, certamente, diria que era abuso e iria pedir a aposentadoria.

Marie com muito gás e se divertindo com a nossa expectativa, ia conversando cada vez com uma, dependendo de quem assumia a liderança e conseguia acompanhar seu ritmo. Nosso revezamento me lembrou o voo das gaivotas. Algumas paradas rápidas para beber água e não desaquecer, mas sempre com bastante registros. Uma das minhas colegas parecia querer comprovar que era mesmo ela naquele percurso, talvez, nunca imaginável. Na maior parte do trajeto, só nós quatro, o desafio, as setas e marcas de sinalização vermelha e branca no chão, nas árvores ou nas pedras nos guiando por Gros Cerveau.

Trechos estreitos, outros com muitas pedras, outros com placas sinalizando o perigo e sempre muita subida. O alto da montanha parecia brincar de esconde-esconde com nossa ansiedade. Olhávamos para baixo e sempre um visual diferente. Desta vez, do lado direito, a vista de cidades, que eu ainda não conhecia, e a beleza de Les Grès de Sainte Anne, uma rocha de formação calcaria, com cavidades esculpidas pelo tempo, que parece uma grande escultura com diferentes máscaras para instigar nosso imaginário.

Ali, estendemos um pouco a parada para mais um aprendizado sobre a região. Diante dos nossos olhos também constatamos com tristeza a ação do homem na natureza: a exploração do arenito da carrière du Val d’Aren. Uma disputa antiga que, segundo Marie, hoje, vitoriosa com a suspensão das atividades no local.

Nossa viagem na natureza e história foi interrompida com a passagem de um corredor. Acreditem! E eu quase não tive tempo de registrar, pois passou pelo grupo em uma velocidade, para mim, inacreditável para o tipo de percurso. No rastro do corredor, prosseguimos pelo Chemin de Grand Randonnée, até o primeiro forte de Gros Cerveau, um forte militar construído no século XIX para proteger o porto de Toulon.

 

Já no topo da montanha, uma recepção inesperada. Um fato de cabras Rove (com o seu leite são fabricados pequenos queijos deliciosos) parecia descansar ao sol. Algumas em locais que dava aflição só de olhar. É difícil imaginar como podem se equilibrar em precipícios e escalar com tanta destreza, apesar de serem robustas. No primeiro momento, o susto diante da possibilidade de ter que fugir correndo trilha abaixo. Depois, uma sessão incansável de fotos e tentativas de afago, que acabaram por espantar os animais.  Aos poucos as cabras foram se retirando em busca de um lugar mais tranquilo.

 

Nosso foco passou a ser a beleza da vista. De um lado, Six Fours Les Plages, Sanary-sur-Mer e Bandol , e ,do outro, La Cadière d’Azur. Alguns passos à frente, a fortaleza e mais um panorama de tirar o fôlego.   Ao fundo debaixo de um pinheiro, uma mesa de piquenique alertou nossos sentidos. Era hora de parar, comer, bater um bom papo, descansar o corpo e pegar o caminho de volta.

Foram cinco horas de “aula caminhada”, um percurso que vou guardar para sempre nas minhas boas lembranças da região de Provence Alpes Côte D’Azur.

 

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Comments

  1. MARIA LUCIA AZEREDO MURTA DA FONSECA says:

    Vi!!! Que passeio sensacional!!! Continue nos brindando com suas aventuras!! Está dando inveja(boa)!!! rsss Beijo

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