Segundas e terças-feiras são dias de curso de francês pela manhã, em Ollioules, cidade vizinha a Sanary-sur-Mer, e, por mais que eu me comprometa a correr no final do dia, acabo enrolando. Matar aula, nem pensar! Além de ter pressa em aprender a língua, no momento, tem sido o espaço onde posso conversar e, o que é melhor, com correção de pronúncia e não apenas boa vontade de interpretar meu francês tupiniquim como, gentilmente, têm feito todos os franceses, pelo menos os que cruzaram o meu caminho até o momento.
Mas, em uma dessas terças-feiras, o dia amanheceu com vento frio (8 graus com sensação de 6). Para quem veio do Rio de Janeiro 40 graus, foi difícil sair da cama. E eis que surgiu a boa ideia que solucionou dois problemas: poderia aproveitar o quentinho do quarto por mais alguns minutos (e isso de manhã tem peso de ouro) e não ficaria no fim do dia com a pendência de correr e, o que é pior, com 100% de chance de não cumprir.
O trajeto Sanary a Ollioules, eu já tinha feito correndo anteriormente e sabia que não teria qualquer problema. Mas, eu não contava que uma simples mochila, e dessa vez consideravelmente leve, novamente quisesse roubar a cena. Não sei se por falta de costume de correr carregando algo, o fato é que eu não consegui prender a mochila no corpo. Quando aumentava a velocidade, a sensação era de que algo me puxava para baixo e a garrafa de água, com muito espaço, aproveitava para bailar de um lado para o outro. Mas, eu estava decidida a fazer pela primeira vez a minha corrida, sem paradas para registro de paisagem ou qualquer outro motivo.
A cada passada eu podia perceber o aquecimento gradativo do meu corpo. As pernas, assim como eu, queriam
mais velocidade e, ao contrário de mim, ignoravam a existência da mochila, que, a partir do meio do caminho, começou a roçar minha nuca, mostrando claramente que deixaria sua marca. Brigamos durante todo o trajeto. Mesmo assim, completei 6 Km em 37 minutos, com direito a uma escadinha no final.
Meu dia de atleta amadora estava só começando. Depois de uma parada estratégica para o curso de francês, resolvi conhecer a loja Decathlon de Ollioules e, para espanto das minhas jovens colegas de turma, a pé.
Ao todo, cerca de 4Km me esperavam, só que dessa vez caminhando e registrando a beleza da paisagem e o percurso que, certamente, será mais uma das minhas opções para treino. Cada trajeto novo que faço recarrego minha energia. E, é nessa caminhada solitária que me encontro e me conheço cada dia mais um pouco.
Entrei e sai da loja de olhos fechados para não cair na tentação. Quem é corredor, ou pratica alguma modalidade esportiva, me entende. Você tem vontade de comprar tudo. Eu não sou consumista, mas, de repente, você começa a lembrar de tudo que está precisando ou gostaria de ter. Enfim, fiquei mais tempo do que programei. Hora de pegar o caminho de volta para casa porque queria chegar com o dia ainda claro.
C’est loin! C’est loin! Era só o que eu escutava quando pedia informação de como chegar a Sanary a pé. À pied? Alguns interrogavam, acreditando não ter escutado direito. E quando eu confirmava, lá vinha sempre uma explicação e desejo de sucesso na caminhada. E foi assim que completei o último percurso do dia, em torno de 8Km, e conheci um pouco mais de Ollioules.
Descendo na D N8 e a surpresa do mar se integrando à paisagem. O ciclista solitário que passa tão rápido na D N8 fazendo o sentido inverso, que mal posso capturá-lo. A seta na giratória que indica estar se aproximando o ponto final.
Conheça o Percurso:
tudo tao vazio…parece cidade fantasma…ui!
👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼