Acordar e dizer “vamos”, para um tênis, pode parecer comportamento de maluco ou atestado de solidão, mas, no meu caso, foi apenas uma autoafirmação. Mergulhada na produção de roteiros para o making of de Amor.com, filme com lançamento previsto para esse primeiro semestre no Brasil, acabei alguns dias sem correr. Mas, a manhã de sol era um convite. Acho que até a tecnologia resolveu me dar um empurrão na decisão, arrumando um problema temporário. Depois de um acordo com a ansiedade, estava resolvido. Nada como uma boa corrida para ajudar a solucionar o problema mais tarde.
E foi assim que comecei o percurso: sem rumo, sem muita disposição, joelhos reclamando e pensando em fazer apenas o trivial. Liguei o automático em direção a Six Fours Les Plages e comecei minha viagem em pensamentos.
A nossa mente sempre nos surpreende. Mesmo conhecendo o prazer e os benefícios proporcionados pela corrida, só pelo fato de ficar pouco tempo parado, o corpo parece que tira folga e é difícil dar a partida. Eu consigo entender, perfeitamente, quem nunca correu estar sempre adiando tomar uma atitude, principalmente, porque ainda não teve a oportunidade de conhecer a grande transformação física, mental e também social, proporcionada pela regularidade na prática da corrida.
Enquanto corria, e o cotidiano dos moradores cruzava o meu caminho, meu texto estava sendo esboçado. Eu não tinha completado dois quilômetros para perceber que o meu organismo já havia respondido ao estímulo. Essas percepções não têm qualquer pretensão técnica, assunto que deixo para profissionais da área como o Dr Drauzio Varella, que compartilha esse gosto por correr.
O fato é que correr me faz sentir mais criativa, mais ativa, mais feliz. A minha perna que parecia pesar 100 quilos, no início, agora, estava solta e leve, em sintonia com meu desejo e pedindo mais, sem se incomodar com as subidas. O trivial já havia ficado para trás.
A placa na altura do porto de Le Brusc, sinalizando a direção para o Espace Natural du Mont Salva me chamou a atenção. Como se estivesse hipnotizada pelo prazer de correr em locais desconhecidos, peguei a direção à esquerda e comecei a subir, sem noção do que me esperava. As escolhas por qual caminho seguir, durante o trajeto, sempre funcionam como energético em uma corrida e lição para a vida.
O Chemin de la Gardiole era destaque em uma seta em cima das plantas e eu aceitei a sugestão. Ao começar uma inclinação continua, o local lembrou-me a subida da Vista Chinesa, no Rio de Janeiro, e inúmeras longas realizadas com minha filha. Em todas as curvas a mesma sensação de possibilidade de chegada. Enquanto fazia da minha corrida um passeio agradável, sem compromisso com tempo para admirar a paisagem, ciclistas e corredores, em treino, me ultrapassavam, facilmente, e me davam a certeza que estava no caminho certo.
No alto do percurso, o azul do mar se integra à paisagem verde da floresta. O barulho da água batendo nas encostas íngremes quebra o silêncio do local. Final da subida, pelo menos naquele trecho. Na reta arborizada, seguindo pelo Chemin de la Léque o encontro com mais ciclistas. O Espace Naturel et Sensible du Mont Salva estava à direita. Entrei na floresta com a curiosidade de uma criança e insegurança de um adulto. No final da trilha, em direção ao mar, uma placa avisava sobre o perigo do local. Mas, a dúvida sobre prosseguir, ou não, foi logo desfeita, quando me deparei com o olhar curioso de um cachorrinho, sem guia, que parecia me perguntar: parou, por quê? Segui em frente. Não havia razão para ter medo. Só não me arrisquei em correr nos trechos estreitos e bem junto ao mar. Também não é necessário provocar a fatalidade. Percorri algumas trilhas e me senti também integrada à natureza. O local é uma pequena parte do Massif du Cap Sicié, que se estende até a cidade de La Seyne sur Mer e oferece inúmeras opções de trilhas.
A corrida trivial tinha ultrapassado a expectativa e o tempo previsto. Ao todo, o trajeto, saindo do Port de Sanary, tem cerca de 15 quilômetros. Peguei o caminho de volta pensando como é bom, saudável e torna o local mais bonito, quando podemos experimentar essa sensação de liberdade, de estar só, sem o stress causado pela insegurança. Assim como essa região, o Rio de Janeiro também oferece inúmeras trilhas, belíssimas, de encantar qualquer turista. Eu sei que estou fazendo uma comparação com cidades menores, mas é o exemplo que nos faz lembrar que é preciso mudar.
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Uauuu!! Que lugar!!! Estou amando sua experiência! Beijo e continue firme!!!
Cada post melhor que o outro. Estou “correndo” com você e muito contente por te ver feliz. bjs
Essa paz faz falta mesmo em cidades como o Rio!